Com o aumento da preocupação de que a recessão global provocada pela pandemia de covid-19 deverá ser maior e por um período mais longo do que as projeções mais recentes de organismos multilaterais, o dólar abriu o pregão desta quinta-feira (14/05) em alta generalizada em relação às moedas emergentes. No mercado brasileiro, a divisa norte-americana disparou pela manhã e se aproximou de R$ 6, chegando a ser negociada a R$ 5,97 no câmbio comercial, mas recuou após nova intervenção do Banco Central. No fim do dia, a divisa encerrou com queda de 1,44%, cotada a R$ 5,817 para a venda.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, destacou que o BC fez um leilão de contratos de swap cambial no valor de US$ 1 bilhão e vendeu US$ 520 milhões no mercado à vista. Ontem, o BC havia realizado um leilão extraordinário de US$ 500 milhões. “O real foi uma das moedas emergentes que mais se desvalorizou frente ao dólar, com perda de 47% em 2020, perdendo somente para a lira turca, que registra queda de 50%”, explicou.
A piora nas contas públicas e o aumento das incertezas de que o governo vai conseguir restringir o aumento de gastos apenas para 2020 tem ajudando a pressionar o câmbio. O economista Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, lembrou que a fala pessimista de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), ontem, alertando para um período de recessão mais prolongado, também teve acabou tendo reflexos no mercado hoje. “Os dirigentes já estavam desenhando um cenário bem ruim, o que o presidente Powell fez foi condensar tudo. Isso ajudou a desvalorizar as moedas emergentes, onde o risco é mais elevado”, destacou. “O dólar segue ganhando força ante nossos pares e o real vai continuar sendo penalizado, porque toda semana surgem notícias negativas. Hoje, a boa notícia é contenção de danos”, explicou Cruz.
Em meio à piora na confiança de investidores no país, o prêmio de risco do CDS (Credit Default Swap) para os títulos soberanos do Brasil de cinco anos voltou a subir na contramão dos pares emergentes, mas fechou com alta de 0,42%, a 346 pontos base. “Houve uma alta expressiva no meio do dia, e o risco chegou a passar de 360 pontos, mas que acabou devolvendo quase tudo no fechamento”, informou o estrategista.
Um dos motivos apontados por especialistas pela piora no risco país ter descolado dos outros emergentes, segundo foi o fato de a Fitch Ratings anunciar a revisão da perspectiva de risco de “estável” para “negativa” para 26 empresas brasileiras, entre elas, Cielo, Comgás, Cosan, Eletrobras, Eletropaulo, Sabesp e Localiza.
Bolsa sobe
Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3), encerrou o dia com alta de 1,59%, a 79.010 pontos, revertendo quase que totalmente as perdas da véspera, puxada pela melhora nas ações dos bancos, de acordo com Cristiane Fensterseifer, analista de ações da casa de análise Spiti.
Saiba Mais
A valorização da B3 acabou acompanhando as bolsas de Nova York. O Índice Dow Jones avançou 1,62% e o Nasdaq, das empresas de tecnologia, subiu 0,91%.