A nova projeção está mais pessimista que a mediana das previsões do mercado computadas pelo boletim Focus do Banco Central, que espera recuo de 4,11% no PIB deste ano. Mas continua mais otimista do que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que esperam que a economia brasileira tenha retração acima de 5% neste ano. A SPE destaca, porém, que a queda de 4,7% do PIB, se confirmada, será a maior da série histórica, iniciada em 1900.
Nos relatórios divulgados hoje, a equipe econômica admitiu que "essa pandemia é ímpar na nossa história recente, pois além de ceifar muitas vidas, pode produzir efeitos econômicos devastadores em um único trimestre, algo que algumas recessões anteriores levariam períodos mais longos para fazê-lo". A equipe econômica reduziu em praticamente R$ 200 bilhões a expectativa do PIB nominal, passando de R$ 7,3 trilhões para R$ 7,1 trilhões.
Quarentena
Pelas contas da SPE, cada semana de quarentena pode custar R$ 20 bilhões em perdas para a economia. “Esse é o custo imediato, os R$ 20 bilhões que deixamos de produzir. Depois disso, ainda tem os custos indiretos, porque quanto mais semanas ficamos nessas políticas de distanciamento social, maior será o número de empresas que irão à falência, maior será o desemprego futuro, mais lenta será a retomada econômica e maior será o impacto de longo prazo na nossa produção”, destacou o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.
A SPE ressaltou ainda que, ao projetar a queda de 4,7% do PIB, tomou como cenário base a previsão de que as medidas de isolamento social necessárias ao combate ao coronavírus se estendem até o fim deste mês de maio. O secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, admitiu, então, que, caso a quarentena se estenda para junho, “as previsões atuais serão novamente revistas”. Calcula-se, por exemplo, que a queda do PIB poderia chegar a 6% se o isolamento social durasse mais um mês.
Adolfo Sachsida garantiu, por sua vez, que essa previsão de perdas com a paralisação não tem uma conotação de crítica ao isolamento. “Ela foi feita para podermos ter uma base para a projeção para o PIB de 2020”, disse o titular da SPE, garantindo que o Ministério da Economia não faz críticas e respeita as medidas de combate ao coronavírus recomendadas pelas autoridades sanitárias. O secretário reconheceu, inclusive, que os novos dados indicam que a equipe econômica está abrindo mão da perspectiva de recuperação da economia rápida, em V, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, vinha prevendo em suas declarações.
Por trimestres
Pelas novas estimativas da SPE, o PIB do primeiro trimestre, que será divulgado no fim deste mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deverá registrar queda de 1,3% em relação ao mesmo período de 2019. Já na comparação com os últimos três meses do ano passado, a variação é zero. Esses dados são otimistas se comparados com a previsão do Itaú Unibanco, que espera recuo de 2,1% no primeiro trimestre de 2020.
A secretaria também prevê queda do PIB do Brasil no segundo trimestre deste ano - o mercado já fala em queda de 10% nesse período. Mas a SPE acredita que a retomada já começa no terceiro trimestre, com uma alta de 3,6% do PIB, caso a quarentena de fato acabe em maio. No último trimestre deste ano, o PIB cresceria 1,7% neste cenário. Já nos dois primeiros trimestres de 2021, a perspectiva de alta do PIB é de 1,2% e 0,9%, respectivamente.
Agropecuária
A queda do PIB em 2020 será puxada, sobretudo, pelos setores de serviços e indústria, já que a maior parte dos estabelecimentos desses setores precisou fechar as portas por conta das medidas de isolamento social. A SPE diz, por sua vez, que a agropecuária segue crescendo e deve registrar uma expansão de 2,4% neste nao.
A SPE concluiu, então, que a queda do PIB só não será maior neste ano por conta da agropecuária, que é o setor que ainda não foi fortemente afetado pela recessão que está fazendo o mundo entrar na maior recessão desde a Grande Depressão, pelas estimativas do FMI. A previsão corrobora o discurso do ministro Paulo Guedes, que vem dizendo que as exportações agrícolas para a China cresceram durante a pandemia da covid-19. O fenômeno, segundo Guedes, atenuou o impacto da crise externa no PIB do Brasil.
Recuperação lenta
O governo federal reconheceu ainda que a crise causada pelo novo coronavírus não vai afetar apenas o PIB de 2020. Por isso, também revisou as projeções de crescimento dos próximos anos. Segundo a SPE, o efeito de carregamento estatístico da queda do PIB em 2020 será “fortemente negativo” no primeiro semestre, mas recomposto na segunda metade e “espera-se que o PIB só alcance o patamar pré-crise em 2022”. “A crise é severa e a recuperação será lenta no longo prazo”, afirmou o subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles.
Saiba Mais
Em um cenário de retomada cíclica até o segundo trimestre de 2021, a queda do PIB de longo prazo poderá chegar a 5% em comparação com o cenário de nenhum impacto no longo prazo, reduzirão o PIB semanalmente em quase R$ 5 bilhões no segundo semestre e em R$ 7,5 bilhões em 2021, de acordo com a secretaria. “Esses valores tendem a ser muito piores caso consideremos um período de paralisação maior que até 31 de maio”, informou o documento.