A crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus já achatou a renda de 40% dos trabalhadores brasileiros. E, por isso, também já provoca efeitos significativos na inadimplência, no medo do desemprego e no consumo da população brasileira.
A conclusão é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que analisou o impacto da covid-19 na economia brasileira por meio de um estudo foi realizado em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. A pesquisa ouviu mais de dois mil trabalhadores no início deste mês, pelo telefone, e tem uma margem de erro de dois pontos percentuais.
Do total de brasileiros entrevistados pela CNI, 23% já perderam totalmente a renda e outros 17% viram o rendimento mensal cair nos últimos 40 dias. Isso significa que quatro em cada 10 brasileiros já perderam poder de compra desde o início da pandemia.
A perda de renda já rebate diretamente na já elevada taxa de inadimplência brasileira. Segundo a CNI, 15% dos brasileiros ficaram endividados nesse período, fazendo com o nível de endividamento da população brasileira saltasse para 43%. E 40% desse pessoal estão com uma dúvida em atraso - dos quais a maioria (57%) entrou na taxa de inadimplência só durante a pandemia do coronavírus.
E ainda tem muita gente com medo de perder o emprego e, consequentemente, engrossar o coro de brasileiros que perdeu renda e ficou endividado nessa crise. De acordo com a pesquisa da CNI, quase metade (48%) dos trabalhadores tem muito medo de ficar sem trabalho por conta da crise do coronavírus. Outros 19% ainda têm um "medo médio" e 10% um "medo pequeno". O total de trabalhadores que teme acabar a pandemia ser ter onde trabalhar representa, portanto, a grande parte da força de trabalho brasileira: 77%.
Consumo
Essas incertezas sobre o futuro das suas contas também têm feito muitos brasileiros revisarem as suas necessidades de consumo. De acordo com a CNI, os mesmos 77% de brasileiros que têm medo de perder o emprego decidiram reduzir o volume das suas compras durante a pandemia do novo coronavírus.
"De cada 4 brasileiros, 3 disseram que reduziram seus gastos após o início das medidas de isolamento social. Essa redução é considerada grande para 40% e média para 45%. Dentre quem reduziu seus gastos, 42% justificam pela insegurança quanto ao futuro, 30% por ter perdido ao menos parte da renda e 26% devido ao isolamento em si", afirma a pesquisa da CNI.
A pesquisa ainda diz que, como o consumo nesse tempo de pandemia tem sido focado nos bens essenciais, apenas três setores apresentaram aumento de demanda nos últimos 40 dias: produtos de limpeza (68% de ampliação de gastos), produtos de higiene pessoal (56%) e alimentos comprados em supermercados (49%). Na ponta contrária, os setores atingidos mais negativamente pela redução do consumo são os de calçados (40% de queda dos gastos), roupas (- 37%), cosméticos (- 32%) e móveis (- 31%).
Cerca de metade dos trabalhadores consultados pela CNI ainda admite que essa preocupação em controlar os gastos pode persistir no pós-pandemia. Afinal, muitos brasileiros devem adiar compras não essenciais, seja por conta do medo de ficar sem emprego ou por conta do receio de ir a locais fechados.
Segundo a CNI, 48% dos brasileiros pretendem reduzir a ida a shoppings depois da reabertura do comércio. E outros 29% admitem até que essa redução de gastos será permanente. Por isso, é possível que a retomada econômica seja mais lenta que o esperado para setores não essenciais como roupas, eletrodomésticos e móveis.
"O consumidor está assustado. As pessoas sabem que a questão é grave, sabem que o contágio ainda pode aumentar, que o número de mortes também. Então vai ser abrir [o comércio] para todo mundo sair corrente para fazer compras, ainda mais em um ambiente fechado. Vamos ter que ir ganhando essa confiança aos poucos", afirmou o gerente de pesquisa e competitividade da CNI, Renato da Fonseca, dizendo que essa retomada precisa, portanto, ser bastante planejada para incluir medidas de precaução como a testagem em massa.
Isolamento social
Renato da Fonseca ainda admitiu que o ritmo dessa recuperação econômica cai depender de quanto tempo mais será preciso manter o isolamento social. Afinal, quanto maior o tempo da paralisação das atividades, maior o número de empresas e consequentemente de empregos que são afetados pela pandemia.
Ainda assim,o gerente da CNI afirmou que, no momento, a melhor saída para o enfrentamento do novo coronavírus é mesmo o isolamento social, já que ninguém sabe ainda o potencial de avanço da doença. O pensamento é o mesmo da maior parte dos brasileiros entrevistados pela CNI.
De acordo com a pesquisa, apesar de estarem sentindo na pele e no bolso os efeitos da pandemia, 86% dos entrevistados são favoráveis ao isolamento social e 93% mudaram a sua rotina para se adequar a essa necessidade de isolamento social.
Recuperação
Saiba Mais
"Desses, 19% disseram que não estão gastando porque as lojas estão fechadas e, por isso, não têm uma razão econômica para não voltar a consumir, terão só a questão da confiança. E esse receio também aconteceu
na China, mas depois as pessoas voltaram a consumir", afirmou Fonseca.