O primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ocorreu em meio a um sinal de alerta na piora dos resultados dos maiores bancos privados do país no primeiro trimestre. Ontem, foi a vez de o Itaú Unibanco apresentar queda de 43,1% no lucro líquido no período, em comparação aos mesmos meses de 2019: R$ 3,912 bilhões –– sobretudo devido ao aumento na provisão para devedores duvidosos, diante da piora nas perspectivas para a economia ante a pandemia.
Na semana passada, o Bradesco informou queda de 43,5% no lucro líquido no primeiro trimestre, na mesma base de comparação (R$ 3,753 bilhões). O Santander registrou aumento no lucro em 10,5%, de R$ 3,853 bilhões. Juntas, as três instituições lucraram R$ 11,5 bilhões. Apenas Bradesco e Itaú registraram queda de R$ 5,857 bilhões.
Na avaliação de Marcel Campos, analista do sistema financeiro da XP Investimentos, os resultados dos três mostram que cada um lida com a crise diferentemente. “O Itaú foi o que se mostrou mais cauteloso. O Santander foi o que ainda não se antecipou à crise, e, por isso, na semana passada, havia um otimismo maior em relação ao resultado dos bancos do que nesta semana” comparou.
Na avaliação de Marcel, os impactos da crise deverão ser maiores no segundo trimestre, “com inadimplência devendo subir bastante entre abril e junho”.
O Itaú anunciou que reforçou em cerca de R$ 4,5 bilhões o colchão de perdas por conta da deterioração do cenário econômico. Ao apresentar os dados do trimestre, o presidente da instituição, Candido Bracher, salientou que procurou ser mais cauteloso do que as recomendações das autoridades. “A principal responsabilidade do banco é se manter sólido, líquido e com balanço forte. Faremos provisões necessárias para manter força no balanço”, afirmou.
Ele admitiu preocupação com o aumento da tensão política, que pode atrapalhar a retomada da confiança de investidores para contribuir com a recuperação da economia e o controle da dívida pública.
Analistas chamam a atenção para a reunião do Copom, hoje, porque, diante da piora do cenário político, a economia dá sinais de recessão no primeiro trimestre. Com a queda de 9,1% da produção industrial, em março, é possível que o corte de juros seja maior do que o 0,5 ponto percentual previsto pela maioria do mercado. “A forte disparidade entre a contração da indústria vista em março, e o esperado pelo mercado, reforçou avaliação de necessidade de afrouxamento monetário”, afirmou José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que espera corte de 0,75 ponto percentual e queda de 7,4% no PIB deste ano.