Economia

Apoio no Congresso é fator chave


Paulo Guedes ainda não deixou o clima de insatisfação baixar. “Alguns ministérios estão vislumbrando novos espaços de ação, mas isso precisa caber no nosso plano. Seria muito oportunismo político trazermos uma farra eleitoral para se engrandecer e colocar em risco o próprio governo”, alfinetou Guedes, em coletiva de imprensa realizada no Planalto. “Eu nunca ofendi ou rompi relação com ninguém. Mas, quando alguma proposta extrapola a Lei de Responsabilidade Fiscal ou se há um incentivo perverso, eu não posso avançar”, acrescentou, no dia seguinte.

Ainda incomodado com o ex-secretário, Guedes tratou de negociar a reação com outros integrantes da Esplanada. Na coletiva chamada por Bolsonaro para confirmar que o “Posto Ipiranga” é o gestor da economia brasileira, também estavam presentes os colegas Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Tereza Cristina (Agricultura) — elogiados durante a semana por Guedes. O ministro da Economia disse que as exportações do agronegócio serão fundamentais para amenizar a queda do Produto Interno Bruto (PIB) e afirmou que os pleitos de investimento da Infraestrutura, ao contrário das pretensões do Desenvolvimento Regional, são factíveis e importantes.

 Em seguida, o chefe da política econômica apareceu com Braga Netto para garantir que tem uma relação excelente com o ministro da Casa Civil. O general reforçou a colaboração com Guedes e assegurou a participação da equipe econômica na construção do plano de retomada para o pós-coronavírus.

Rogério Marinho não escondeu nos bastidores o descontentamento com a recente falta de diálogo e o trato com Guedes, “que não é virtuoso em temperamento”. Ao Correio, o ministro garantiu que não tem interesse em criar uma crise com o governo. “Eu tenho interesse que as coisas deem certo. Para mim, sempre esteve claro que qualquer solução, no sentido de desembolso, passa pelo Ministério da Economia”, disse.

Marinho reforçou, ainda, o discurso de que o Planalto, a Casa Civil e a Economia tentaram mostrar que o imbróglio criado pelo Pró-Brasil não passou de um mal-entendido. Segundo as pastas, o plano representa apenas os pleitos setoriais dos diversos ministérios do governo — pleitos esses que ainda serão analisados pelo presidente Jair Bolsonaro, dentro dos limites orçamentários recomendados pelo Ministério da Economia.

Esteio no Congresso

“Se depender do Marinho, as coisas vão se acalmar. Não é momento de criar crise ou confusões. Ele vai ter bom senso de não avançar em uma coisa que desestabilize o governo, sobretudo na área econômica, que é uma das poucas áreas que ainda tem credibilidade no governo”, endossou o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da reforma da Previdência na Câmara e colega de partido do ministro do Desenvolvimento Regional. O parlamentar afirma que “cabe ao presidente Bolsonaro fazer a união da equipe”, pois “Guedes sempre teve dificuldade de lidar na articulação política.” Os líderes partidários ressaltam que essa união é fundamental.

“Se Guedes é o esteio da economia, Marinho tem sido um dos esteios do governo no Congresso. Mesmo depois que saiu do Ministério da Economia, é um dos principais interlocutores das pautas econômicas na Câmara. Então, espero que os ministros tenham a maturidade de recompor o diálogo”, afirmou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM). “O Congresso é reformista, mas sabe que é preciso coordenar as reformas com o momento de vida do país. Depois do coronavírus, teremos um cenário de pós-guerra. E todo pós-guerra exige certo investimento”, ponderou Ramos.

 Analistas do mercado financeiro admitem que os acenos de Bolsonaro a Guedes permitiram a reversão de parte das perdas registradas pela Bolsa de Valores, depois da apresentação do Pró-Brasil. Mas seguem de olho nos ânimos do governo para definirem o rumo dos investimentos, ainda mais neste momento em que o presidente também parece disposto a se aproximar do Centrão, notório sedento por cargos e investimentos.

“Bolsonaro se preocupou em mostrar ao mercado que não haverá mudança na economia agora, mas esse gesto também foi visto com certo ceticismo. Conhecemos o histórico do presidente e sabemos que, uma hora, o governo chegará a uma encruzilhada por conta dos planos para a retomada. Haverá pressão pelo aumento dos gastos públicos, que vai na contramão do que o ministro Guedes defende. O governo precisará se posicionar em algum momento”, disse o diretor de câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo.



R$ 30 bilhões
Investimentos em obras públicas previstos pelo Plano Pró-Brasil. Guedes é contrário a medidas que pressionem o teto fiscal.