Economia

Crise sanitária e econômica exige ação de um líder

Quais os efeitos da crise?
Estamos vivendo duas crises, uma sanitária e outra, econômica. Temos os dois pratos da balança e precisam estar equilibrados. Para enfrentar de uma forma bastante dirigida o problema do coronavírus e da saúde, precisamos de muita união, muita liderança. Precisamos de um pacto de entendimento e solidariedade para enfrentar essa crise. Caminhamos para 13 milhões de desempregados, revelando a enorme desigualdade do país. Está nos faltando uma liderança nacional inequívoca, sem focar em ninguém, que possa aglutinar a vontade dos brasileiros. Liderança, em qualquer entidade, é o presidente. O Brasil precisa de uma amálgama que una frontalmente a liderança existente. Senão, o problema de saúde vai se agravar. Essa crise tem efeitos na população e efeito econômico.

Qual o impacto no comércio?
O comércio, no Brasil todo, está sofrendo de uma forma brutal. Houve redução de 70% da atividade, os shoppings estão fechados, as lojas, também. A ponta da economia, da demanda, é o comércio. Não estou criticando, nem acho que tem que abrir tudo. Mas os setores estão sem pagar aluguéis, honrar compromissos, com dificuldade de chegar a banco. Não podemos abrir tudo, porque o Brasil já passou de 6 mil mortes. É uma loucura. Os números do desemprego só não são maiores porque o pessoal está em casa, não está procurando emprego. Na hora que sair para procurar, o dado vai explodir. E ninguém sabe como será o retorno da economia na pós-pandemia. Alguns dizem que vai ser em V, com queda brusca e retomada rápida. Eu aposto mais em W, ou seja, cai bruscamente, sobe um pouco e cai de novo antes de voltar a subir.

O que pode ser feito para reduzir o impacto econômico?
Faço parte de um órgão do governo de Minas Gerais, chamado Minas Consciente, e estamos soltando uma cartilha para orientar os 853 municípios mineiros a retomarem as atividades de forma paulatina e responsável. Estamos estudando como a economia poder ser retomada. Porque preocupa-me muito, primeiro como cidadão, ver o sofrimento humano, mas não posso deixar de me preocupar com a economia. Mais de 70% das empresas do país estão trabalhando com capacidade reduzida. Por outro lado, nós precisamos evitar o caos da estrutura hospitalar. Sou presidente do conselho superior do Hospital Felício Rocho e vejo de perto a luta heróica dos profissionais de saúde. A gente tem que encontrar um equilíbrio.

Como equilibrar as duas crises?
É preciso um entendimento. Na hora que um governo fala “libera aqui” e outro diz “libera ali”, sem coordenação, não funciona. Nunca o Brasil precisou tanto de unidade. É importante darmos as mãos em torno de um objetivo comum. Com entendimento é possível administrar o isolamento social com responsabilidade. Ver o que pode voltar a funcionar, paulatinamente, além dos serviços essenciais. Alguma parte da construção civil, por exemplo, pode puxar a indústria do cimento e gerar empregos. A maioria das pessoas que trabalham no setor é jovem. Vamos manter os grupos de risco em casa. Mas isso só será possível com conversa, sem ninguém cutucar ninguém, para avaliar como liberar aos poucos as atividades e chegar a uma conclusão sobre testar febre, sobre a distância um do outro. E assim puxar a cadeia produtiva. Não é fazer festa nem jogos de futebol. Não podemos fazer aglomeração, mas, certos setores, como a indústria automobilística, muito automatizada, podem voltar a funcionar de forma responsável. Queremos evitar o caos na estrutura de saúde e evitar o caos na economia.

O senhor fala em pacto e liderança. Está faltando um líder no país?
Claro que está faltando. A minha grande preocupação, sem entrar em partido político, é essa. Estamos vendo governador brigar com presidente. O presidente discutindo com ministros. Há uma falta absurda de entendimento nacional em um dos momentos mais graves da história do país. Estamos vivendo uma pandemia com pandemônio. Nunca vi isso antes. Precisamos de um pacto de entendimento de solidariedade para enfrentar essa crise, com muita liderança, com os poderes, as entidades representativas das empresas, os sindicatos. Para isso, precisamos de uma liderança. Ninguém pode falar que não vai morrer mais ninguém, mas todos podem pedir a união do país para enfrentar a guerra. Isso podemos fazer amanhã.