Economia

Dívida pública pode chegar a 90% do PIB após a crise da Covid, diz Mattar

Secretário de Desestatização diz que solução será por meio do programa de concessões, reformas estruturantes e venda de ativos da União, mas cronograma de privatizações ficou para 2021

A crise do novo coronavírus, que atrasou todo o cronograma de privatizações, vai elevar a dívida pública a 90% do Produto Interno Bruto (PIB), disse, nesta quinta-feira (30/4), o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar. Em videoconferência do Credit Suisse, ele afirmou que a solução para reduzir o endividamento do país, elevado pelos gastos com as medidas emergenciais de enfrentamento da pandemia de Covid-19, será por meio do programa de concessões, de reformas estruturantes e da venda de ativos da União. No entanto, ressaltou que, mesmo os projetos mais avançados, foram postergados por conta da crise.

“Temos uma dificuldade de prazo. A Covid tornou as coisas mais difíceis, mas a forma de reduzir a dívida é a venda de ativos. Temos mais de R$ 1 trilhão em ativos imobiliários, mas a grande maioria são irregulares e precisamos regulamentar para vender”, explicou. De 750 mil imóveis, apenas 400 são regularizados, conforme Mattar. “Os outros ativos são as estatais, com potencial de R$ 900 bilhões. Mas a privatização é uma decisão de governo, acima de mim e acima do Paulo Guedes (ministro da Economia). Se o governo não quer vender a Caixa, a Petrobras e o Banco do Brasil, tem de vender o máximo de ativos. Se não for tudo, que seja R$ 500 bilhões. Nossos líderes terão que tomar essa decisão”, destacou.

Mattar disse que, para avançar com seu plano de desestatização, precisa convencer os ministros setoriais e angariar o apoio do Congresso. “As estatais do Ministério da Economia, Serpro, Dataprev, Casa da Moeda, foram colocadas à venda, porque o governo é um péssimo gestor. A Valec gastou R$ 8 bilhões para fazer um ferrovia que vendeu por R$ 2,2 bilhões. Estatal é uma má alocação de recursos”, disse.


Participações


O secretário disse que a orientação do governo é a União se desfazer de todas as participações da BNDESPar, subsidiária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Mas não agora. Hoje, seria realizar prejuízo. Existem excelentes ativos, mas fomos pegos pelo novo coronavírus. Terminando a crise, nós vamos nos desfazer de tudo. Não é papel do Brasil, com carência em todas as áreas, ter participação. Isso é para país que tem dinheiro sobrando. O Brasil não tem dinheiro sobrando.”

Mattar apresentou dados para provar que privatizar gera emprego. Segundo ele, antes de serem vendidas a Embraer tinha 9 mil empregados e a Vale, 10,6 mil. Hoje, as empresas têm 18 mil e mais de 70 mil respectivamente. “Não existe desemprego no setor público. São 12 milhões de servidores e 500  mil funcionários de estatais. Vendê-las é tornar o país mais ético e menos oneroso”, defendeu.

Saiba Mais

O secretário reiterou que o novo coronavírus atrasou o cronograma e lembrou que o país tem 954 ativos, 698 desafiadores, 198 participações indiretas e 58 que não valem nada, mas deixam de representar gastos. “Na área de saneamento, a desestatização estava bem endereçada. Temos, por ano, 16 mil crianças que morrem por falta de saneamento. Por isso, o S do BNDES não é mais de social é de saneamento”, brincou.

O BNDES cumpre um papel de estruturar os projetos e estava envolvido nisso, segundo Salim Mattar, quando surgiu a crise. “Parte do seu esforço foi direcionado para ajudar segmentos mais carentes que precisam de financiamento neste momento”, explicou.