O Banco Central (BC) admitiu, ontem, que a concessão de crédito para as micro e pequenas empresas (MPEs), e para as famílias, deve perder força neste ano. Em função da pandemia, a autoridade monetária acredita que os bancos vão preferir renegociar e reestruturar as dívidas da maior parte dos clientes, em vez de conceder novos financiamentos. Afinal, há uma perspectiva de que a crise da Covid-19 aumente a inadimplência.
Segundo o BC, o estoque de crédito oferecido pelos bancos às MPEs e às famílias subiu quase 10% em 2019, e continuava nesse ritmo de crescimento no início deste ano por conta da melhora da atividade econômica. Essa curva ascendente, porém, perdeu força pelo choque do novo coronavírus, mesmo depois de a autoridade monetária anunciar medidas monetárias que prometem injetar até R$ 1,2 trilhão no sistema financeiro. Afinal, apesar do incentivo ao crédito, também aumentou a percepção de risco dos bancos.
Segundo o BC, é possível que as grandes empresas ampliem a sua participação no mercado de crédito neste ano. Isso porque essas empresas estavam procurando menos as instituições para se financiar, porque estavam preferindo captar recursos no mercado de capitais. Mas, como a pandemia reduziu a rentabilidade do mercado, essas empresas devem retornar ao crédito bancário. E os bancos, apesar da maior percepção de risco imposta pela crise atual, devem ser mais abertos a esses pedidos, já que as grandes empresas têm mais garantias a oferecer.
Custos
O mesmo, porém, não deve ocorrer com as PMEs e com as famílias, que têm menos garantias para oferecer e, por isso, acabam arcando com um custo maior para se financiar em momentos de crise. “Em relação às grandes empresas, o crédito bancário deve voltar a ser a principal fonte de financiamento, até que o mercado de capitais doméstico e internacional retornem à normalidade. Para as PMEs, o crescimento do crédito bancário deverá perder força e, nos próximos meses, deveremos observar operações de reestruturação de dívidas para adequar a capacidade de pagamento das empresas à nova realidade”, diz trecho do Relatório de Estabilidade Financeira do Sistema Financeiro Nacional, divulgado ontem.
No caso das famílias, o BC avalia que “a expectativa era de que a carteira de crédito para as pessoas físicas continuasse a crescer (…), contudo a expectativa atual é de que, diante da Covid-19, o ritmo observado de crescimento sofra redução nos próximos semestres, aumentando as operações de reestruturação de dívidas para adequação da capacidade de pagamento das famílias”, diz o relatório.
O BC argumenta que a desaceleração econômica deve aumentar o volume de Ativos Problemáticos (APs) das pequenas e médias empresas, e também das famílias cuja inadimplência pode voltar ao pico registrado depois da crise de 2015.
A autoridade monetária garante que, apesar de o avanço do crédito ter perdido força, está chegando na ponta graças às medidas de liquidez que foram anunciadas pelo BC. Mas os consumidores perceberam que dinheiro para emprestar está mais caro e difícil. (MB)
"Nos próximos meses, deveremos observar operações de reestruturação de dívidas para adequar a capacidade de pagamento das empresas à nova realidade"
Trecho do Relatório de Establidade Financeira do BC