A crise provocada pela pandemia do novo coronavÃrus pegou os brasileiros em situação financeira mais vulnerável, com alto nÃvel de endividamento. Dados divulgados nesta terça-feira, 28, pelo Banco Central mostram que, em fevereiro, o endividamento das famÃlias com os bancos atingiu 45,5%. O porcentual é o maior desde os 45,8% verificados em outubro de 2015, quando o Brasil enfrentava a crise fiscal do governo Dilma Rousseff.
O cálculo do endividamento leva em conta o total das dÃvidas bancárias, dividido pela renda das famÃlias no perÃodo de 12 meses. Se for considerado o endividamento sem as operações de crédito imobiliário - geralmente de valores mais elevados para as famÃlias -, o porcentual de fevereiro ficou em 26,8%, também acima do verificado em anos mais recentes.
Os dados de fevereiro ainda não refletem o acirramento da crise provocada pelo novo coronavÃrus. Isso porque foi em março que o isolamento social se intensificou nas cidades brasileiras, afetando a atividade econômica, a renda e o emprego. Na prática, em março, a crise recaiu sobre famÃlias já naturalmente mais endividadas.
"Temos trajetória de crescimento do endividamento das famÃlias já há algum tempo", pontuou hoje o chefe do Departamento de EstatÃsticas do Banco Central, Fernando Rocha, durante entrevista coletiva virtual. "Este desenho do endividamento é consequência do que vÃamos no mercado de crédito (antes da crise): o crédito livre para pessoas fÃsicas puxando (as operações)", afirmou.
Como os efeitos da pandemia se intensificaram em março, a expectativa é de que os dados do mês - a serem divulgados apenas no fim de maio - mostrem endividamento ainda maior nas famÃlias. Com o desemprego maior e a renda menor, os brasileiros tendem a fazer menos dÃvidas para aquisição de bens como veÃculos e imóveis. Por outro lado, é natural que a demanda por crédito pessoal ou emergencial aumente.
Durante a coletiva, Rocha evitou comentar se o nÃvel de endividamento das famÃlias preocupa o Banco Central.
Comprometimento da renda
Os números do BC mostraram ainda que, em fevereiro, o comprometimento da renda das famÃlias com dÃvidas bancárias ficou em 20,0%. O porcentual é próximo do verificado no fim de 2019, mas superior ao visto em anos anteriores. Se o financiamento imobiliário for excluÃdo da conta, o comprometimento da renda com dÃvidas bancárias estava em 17,6% em fevereiro.