O ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta mostrar otimismo nas teleconferências que faz com operadores do mercado financeiro e afirma que a economia brasileira vai “surpreender o mundo”, em uma retomada mais forte, como em um V, após a recessão profunda provocada pela pandemia. Tais declarações, no entanto, são vistas com desconfiança entre analistas.
Na avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio, a certeza é que o Brasil continuará crescendo pouco e menos do que seus pares pós-pandemia, porque entrou em uma crise mais profunda internacional sem se recuperar da recessão anterior, causada internamente. Nem as previsões mais otimistas do Fundo Monetário Internacional mostram retomada do Brasil mais acelerada do que as de demais países em 2021, após o tombo generalizado este ano. Para o ano que vem, o FMI prevê crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de 5,8%, enquanto o país deve avançar 2,9%, empatando com a Bolívia e só ganhando da Venezuela, que encolherá 5%. O organismo multilateral prevê queda de 5,3% no PIB brasileiro em 2020, e aumento do desemprego para 14,7%.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, prevê crescimento de apenas 2% no ano que vem e “com viés de baixa”. “O governo vai precisar usar muita política fiscal para evitar queda maior no PIB. Estamos prevendo recuo de 4,7%, e a dívida pública bruta próxima de 90% do PIB. Com isso, a saída da crise será muito difícil, porque não tem política fiscal para estimular a economia e porque o governo precisará fazer um grande aperto fiscal no ano que vem”, resumiu.
“O Brasil cresce pouco e vai continuar perdendo de braçada nesse cenário global, porque não faz uma quarentena de verdade e está muito longe ainda do cenário de retomada”, afirmou a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, de Washington. Ela calcula retração de 6% a 9% no PIB neste ano e faz um alerta para o fato de que não haverá uma curva em V de recuperação, como Guedes espera, em 2021, mas um ziguezague devido às quarentenas intermitentes.
Na avaliação do economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, o Brasil não tem fôlego para crescer mais do que seus pares porque não há espaço fiscal para ajudar na retomada. Para ele, a reforma da Previdência não foi suficiente para melhorar o quadro fiscal e a crise política que o presidente Jair Bolsonaro vem criando ajudará o país a afundar mais. “Há muitas incertezas quando o chefe do Executivo só pensa em reeleição”, lamentou. (RH)