Economia

Cepal prevê queda de 5,3% do PIB da América Latina em 2020

A crise provocada pelo novo coronavírus será a pior da história da região, prevê a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

A pandemia do novo coronavírus vai provocar a maior crise econômica e social da história da América Latina. A previsão é da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que projeta uma queda de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB) da região neste ano, além de pioras expressivas no nível de emprego e pobreza, em virtude da Covid-19.

 

"A crise pela qual a região está passando em 2020, com uma queda do PIB de 5,3%, será a pior de toda a sua história. Para encontrar uma contração de magnitude comparável é necessário voltar à Grande Depressão de 1930 (-5%) ou até mais, até 1914 (-4,9%)", diz a Cepal, que projeta uma queda semelhante para o PIB do Brasil em 2020: - 5,2%.

 

Relatório divulgado, nesta terça-feira (21/4), pela Cepal diz que a pandemia do novo coronavírus impacta a economia da América Latina de diversas formas. O primeiro - e possivelmente o mais forte - impacto vem do comércio exterior, que deve cair 13% neste ano, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Afinal, os países da região são grandes exportadores de matéria prima para alguns dos países mais afetados pela pandemia da Covid-19.

 

“O declínio da atividade econômica global, particularmente nos Estados Unidos, China e Europa tem um impacto negativo na América Latina e no Caribe através do comércio em termos de volume e preço, especialmente de matérias-primas”, diz a Cepal, lembrando que, além da redução de demanda vinda desses países, a América Latina será afetada negativamente pela queda dos preços internacionais de produtos como a soja e o petróleo. 

 

A Cepal calcula, então, que as exportações da América Latina vão cair 15% neste ano, devido à redução de 8,8% dos preços dos produtos exportados pela região e pela contração de 6% do volume demandado pelo resto do mundo. 

 

Além disso, lembra a Cepal, a economia regional ainda vai sofrer um choque interno neste ano. Afinal, a pandemia do novo coronavírus provocou a paralisação de serviços fundamentais para o crescimento local, como o turismo. “A quarentena e  o isolamento social implicaram quedas acentuadas nos atividades como aviação, turismo, comércio e zonas francas”, frisa.

 

E essa crise ainda tem um agravante por aqui: o fato de que a economia regional já vinha fragilizada. A Cepal estima que a taxa de crescimento do PIB da América Latina caiu de 6% para 0,2% entre 2010 e 2019. Por isso, calcula que, enquanto o PIB mundial vai cair 2% em 2020, o da América Latina vai contrair 5,3% em virtude da Covid-19.

Desemprego

Por conta disso, a Cepal também calcula que a taxa de desemprego da região vai subir cerca de 3,4 pontos percentuais neste ano, passando de 8,1% para 11,5%. Isso significa que 11,6 milhões de pessoas podem entrar na fila do desemprego na América Latina, elevando de 26,1 milhões para 37,7 milhões o total de pessoas que não tem trabalho na região. 

 

"Essas cifras são significativamente maiores às que foram registradas durante a crise financeira mundial, quando a taxa de desemprego da região subiu de 6,7% em 2008 para 7,3% em 2009 (0,6 pontos percentuais)", ressalta a Cepal.

 

A Cepal explica que a situação é tão grave na questão do emprego porque, hoje em dia, cerca de 50% dos empregos formais da região são gerados por pequenas e médias empresas. Ou seja, justamente pelas empresas que foram mais atingidas pela crise do novo coronavírus. Além da interrupção das atividades, muitas dessas empresas têm reclamado, por exemplo, da falta de capital de giro e de crédito durante a pandemia. “As empresas, independentemente do tamanho, enfrentam declínios significativos de sua renda, dificuldades no acesso ao crédito e maior probabilidade insolvência”, lembra a Cepal.

 

Pobreza

A entidade ainda prevê um agravamento do nível de pobreza da região por conta da Covid-19. "A queda de 5,3% do PIB e o aumento do desemprego em 3,4 pontos percentuais terão um efeito negativo direto sobre a renda familiar e a possibilidade de contar com os recursos suficientes para satisfazer as necessidades básicas. Nesse contexto, a taxa de pobreza aumentaria 4,4 pontos percentuais durante 2020, de 30,3% para 34,7%, o que significa um aumento de 28,7 milhões de pessoas em situação de pobreza", explica a Cepal, acrescentando que, desse número, 16 milhões de pessoas estariam em situação de pobreza extrema.

 

Brasil

Segundo o Cepal, o Brasil terá o quarto pior desempenho econômico entre os países da América do Sul em 2020, perdendo apenas para a Venezuela (-18% do PIB), o Equador (-6,5% do PIB) e a Argentina (-6,5% do PIB). 

 

"Alguns países desta subregião (América do Sul) são muito afetados pela queda da atividade da China, que é um importante mercado para suas exportações de bens. É o caso do Chile, Brasil, Peru e Uruguai, que destinam a China mais de 20% de suas exportações. [...] A interrupção das cadeias de valor impactará com maior intensidade as economias brasileira e mexicana, onde os setores manufatureiros são os maiores da região", acrescentou a Cepal, que, por isso, projeta uma queda de 15,1% das exportações brasileiras, com queda de 7% do volume de 8,1% do valor, em 2020.