O ministro da Economia, Paul Guedes, demonstrou otimismo com a retomada da atividade brasileira após a recessão que está se formando em torno da pandemia de Covid-19, provocada pelo novo coronavírus. Ele evitou dar números e falou que as previsões atuais são meros chutes, porque nenhum modelo econométrico consegue prever a intensidade e a duração dessa crise, mas garantiu que o Brasil vai surpreender na retomada.“Os modelos econômicos estão equivocados”, disse ele, nesta segunda-feira em uma teleconferência organizada pelo BTG Pactual.
“Qualquer economista sabe que houve mudança do regime e todos os modelos não funciona. Qualquer um que está fazendo previsão está patinando em gelo fino”, afirmou. O ministro fez questão de afirmar que, no começo do ano, antes de o coronavírus chegar ao país, o Produto Interno Bruto (PIB) uma curva ascendente, “enquanto o mundo estava desacelerando”.
Guedes apostou em uma recuperação mais acelerada, com a curva em V, ao contrário do que os economistas mais cuidadosos estão prevendo. “A nossa volta pode ser em V e vamos surpreender o mundo. Ano passado, ninguém acreditava com a nossa capacidade de lidar com diferentes opiniões a aprovamos a reforma da Previdência”, contou ele, minimizando as críticas em relação à velocidade das medidas que o governo vem adotando para evitar a crise. O barulho é diário, mas as medidas estão avançando e o Brasil está progredindo”, garantiu.
O ministro contou que tem respeitado as orientações de isolamento social, porque não entende de saúde e defendeu o distanciamento, ao contrário do presidente Jair Bolsonaro, que tem feito aparições em aglomerações no fim de semana. “Eu não entendo de saúde e não posso me aventurar nesse território”, afirmou.
Para o chefe da Economia, o importante é preservar os sinais vitais da economia. “Preservar sinais vitais da economia não significa sair do isolamento”, acrescentou. Na avaliação do ministro, o respeito aos contratos é fundamental para o equilíbrio econômico daqui para frente e o governo pretende trabalhar nesse sentido. “Do ponto de vista da saúde temos que estar o mais distante possível e na economia temos que estar todo mundo de mão dada, sem interromper o meio de pagamentos”, disse.
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Segundo o ministro, todos estão sendo testados nesse período de turbulência, pois “o coice externo na economia ainda não veio”. “ A crise vai tirar de cada um de nós o que temos de melhor precisamos ser resilientes”, afirmou o ministro durante uma apresentação de quase duas horas e acrescentou que ele tem evitado entrar em brigas. “Estou sempre com a mão estendida”, disse.
O chefe da equipe econômica ainda defendeu uma cooperação de todos como forma de tentar minimizar as polêmicas causadas pelo presidente com os demais poderes e que aumentaram as incertezas no mercado. “Nós temos que nos ajudar. Não é hora de desentendimento de brasileiros”, acrescentou.
Retomada
Em relação às políticas para a retomada da economia, o ministro defendeu a retomada das reformas, a simplificação de tributos e a facilitação dos investimentos, principalmente, das concessões em infraestrutura. Ele criticou a concessão de áreas de exploração de petróleo pelo regime de partilha e garantiu que pelo menos duas privatizações devem acontecer logo que for possível.
Em relação à reforma tributária que o governo quer, ele não deu detalhes mas voltou a defender a desoneração da folha de pagamentos, apesar de admitir que a carga tributária é elevada e não há espaço para aumento de impostos. Guedes ainda reforçou a necessidade da aprovação de propostas que já estavam no Congresso como o Pacto Federativo, a PEC dos Fundo, o novo marco regulatório do saneamento e o projeto de lei de autonomia do Banco Central.
De acordo com dados da Secretaria de Política Econômica, as medidas emergenciais fiscais e parafiscais, de crédito e regulatórias têm um potencial de até R$ 3,5 bilhões de estímulos na economia. Segundo o ministro, a pasta ainda está chamando os bancos para uma reestruturação no mercado de microcrédito e de consórcios, e essas novas medidas serão anunciadas “em breve”.
Fiscal preocupante
O ministro demonstrou preocupação com o desequilíbrio fiscal das contas públicas, que devem piorar devido às medidas emergenciais que estão sendo adotadas para conter os efeitos da crise do coronavírus e defendeu um ajuste fiscal logo assim que a pandemia for controlada. .
“Somos brasileiros e temos que atravessar essa tormenta sem perder a bússola”, defendeu Guedes. Ele criticou, por exemplo, o projeto de lei que obriga a União a cobrir a perda de arrecadação de estados e municípios com tributos, uma conta que pode chegar a R$ 220 bilhões sem impor limites. Para o ministro, a proposta abre caminho para uma “farra fiscal”.
Pelas estimativas do mercado, a dívida pública bruta vai disparar e poderá ficar acima de 90% do PIB ainda neste ano, o que limitará a capacidade de investimento público para ajudar na retomada quando uma cura para a doença for encontrada e as cidades voltarem à normalidade.