Economia

Endividamento bate recorde





Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), demonstrou que o número de famílias com dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro bateu novo recorde em abril de 2020, alcançando 66,6%. Esta foi a primeira Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic)  realizada após o início da pandemia de coronavírus no Brasil. A coleta dos dados ocorreu de 20 de março a 5 de abril.

Segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a renovação da alta do endividamento neste mês se baseou na ampliação do crédito ao consumidor. “A crise com a covid-19 impõe ao governo a adoção de medidas de estímulo ao crédito”, diz. Trados reforça a importância de se viabilizarem prazos mais longos para os pagamentos ou alongamentos das dívidas, além da busca por iniciativas mais eficazes para mitigar o risco de crédito. “Assim, os consumidores poderão quitar as contas em dia sem maiores dificuldades, afastando a piora nos indicadores de inadimplência nos meses à frente.”

Na Câmara Federal, um projeto de autoria do deputado federal Denis Bezerra (PSB-CE) foi apresentado em 17 de março e aprovado no último dia 9. O texto altera a lei 12.414/2011, que regulamenta a formação e consulta a bancos de dados relativos a adimplência, suspendendo a inscrição de pessoas em serviços de proteção de crédito, como o SPC e SERASA, enquanto durar a pandemia de Covid-19. Na justificativa, o parlamentar alega que a medida visa conceder o acesso ao crédito para aqueles que forem afetados economicamente pela crise. O projeto aguarda agora apreciação pelo Senado Federal.

Flavio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, afirma que a medida é bem-vinda no momento de incertezas na economia. “Vai ajudar os trabalhadores informais, que terão muitas dificuldades em fazer os pagamentos de dívidas”, afirma.

Os indicadores de inadimplência apontam que a quantidade de brasileiros com dívidas ou contas em atrasos ficou estável em abril, após dois meses consecutivos de aumento: 25,3%, percentual igual ao aferido no mês passado. Em comparação com igual período de 2019 (23,9%), contudo, houve crescimento. O percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar as contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permanecerem inadimplentes apresentou queda em abril, no comparativo mensal, passando de 10,2% do total, em março de 2020, para 9,9%. Entretanto, o indicador havia alcançado 9,5% em abril do ano anterior.

Em relação aos tipos de dívida, o cartão de crédito continua sendo o mais apontado pelos brasileiros como a principal modalidade de endividamento: 77,6%. Carnês (17,5%) e financiamento de veículos (10,2%) também permanecem na segunda e terceira posições, respectivamente.

José Luiz Oreiro, professor de economia da UnB, avalia que o cartão de crédito lidera os segmentos, pois é a ferramenta mais fácil para garantir o consumo quando faltam recursos. “Os números que vi antes do coronavírus mostravam uma tendência do aumento de endividamento. Agora, vai aumentar muito, porque terão de encontrar uma forma de financiar o consumo”, prevê.

*Estagiários sob a supervisão de Fernando Brito