Ao revisar para baixo as projeções de crescimento econômico mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou 6,3 pontos percentuais da estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) global, passando a prever retração de 3% neste ano. Essa deverá ser a maior recessão em um século e poderá ser pior do que a registrada na Grande Depressão, que começou em 1929. Em janeiro, a previsão era de uma expansão de 3,3%, mas foi por água abaixo com a pandemia da Covid-19.
O cenário nada animador apresentado pelo Fundo é resultado do “Grande Bloqueio”, como vem sendo chamado pelo FMI, o confinamento social, recomendado pelas autoridades médicas e sanitárias para conter a infecção pelo novo coronavírus. “Essa é uma revisão importante em um período muito curto. Isso faz do Grande Bloqueio a maior recessão desde a Grande Depressão, e é muito pior do que a crise financeira global”, justificou a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, durante a apresentação do relatório Panorama Econômico Global, divulgado ontem, durante o encontro de primavera (no Hemisfério Norte) do Fundo, que está ocorrendo por meio de videoconferências.
A economista indiana ressaltou que a crise financeira é sem precedentes, e, por conta de a pandemia ainda não estar controlada, a velocidade e a intensidade do colapso na economia global são difíceis de serem mensuradas. Em relação ao Brasil, ela reforçou que o principal objetivo precisa ser “combater a pandemia”. O Fundo fez um corte de 7,5 pontos percentuais nas projeções do PIB do Brasil e o que antes era uma expectativa de crescimento de 2,2%, virou retração de 5,3% neste ano, passando para um crescimento de 2,9%, em 2021.
As novas estimativas do FMI para as maiores economias do planeta passaram a ser de recessão profunda, com quedas de 7,5% para a Zona do Euro e de 5,9% para os Estados Unidos. Itália e Espanha devem registrar os maiores tombos: de 9,1% e 8%, respectivamente. O organismo multilateral prevê uma retomada mais acelerada nessas economias em 2021, todas acima de 4%, sendo que o PIB global deverá registrar avanço de 5,8%.
Sem surpresas
A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics (PIIE), de Washington, não teve surpresas com as novas projeções do FMI, pois foi uma das primeiras a alertar sobre a recessão profunda que estava se formando devido à Covid-19. “Uma queda de 3% no PIB global será brutal. Mas, no Brasil, será bem pior, porque o governo continua demorando muito para adotar medidas mais eficazes em relação ao confinamento e ao socorro das pessoas que estão precisando do auxílio emergencial”, alertou.
Monica previa queda de 6% no PIB brasileiro neste ano, mas já considera um tombo maior, de até 9%, devido ao fato de o Brasil não estar adotando uma quarentena mais ampla, como ocorre agora nos EUA e nos países europeus. Ela criticou o fato de o presidente Jair Bolsonaro continuar estimulando o fim do confinamento e a reabertura do comércio nos estados sob justificativa de que a economia não pode parar.
“O custo dessas aglomerações será alto. Dentro de duas ou três semanas, o país vai passar pelo que vários países europeus e os Estados Unidos estão passando agora, que é o colapso no sistema de saúde”, previu. Por conta disso, ela considerou os dados do FMI otimistas e não descartou novas projeções para baixo, tanto para o Brasil quanto para o mundo.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, reconheceu também que a previsão de queda de 3% no PIB global, feita pelo FMI, é algo histórico. “O mundo ainda não teve uma recessão tão forte, nem mesmo em 2008, durante a crise financeira global. Esse é um sinal muito preocupante, embora o conhecimento para lidar com crises hoje seja diferente”, destacou ele, que prevê queda de 4,7% no PIB brasileiro este ano.