Com a queda global na demanda e no preço do barril de petróleo, os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), como Rússia e Canadá, fecharam um acordo de corte de produção de quase 10 milhões de barris por dia (bpd), de 1º de maio até 30 de junho, anunciado no domingo. Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu no Twitter que a redução será de 20 milhões/bpd. O preço da commodity, no entanto, não reagiu nem a um nem a outro anúncio: teve um dia extremamente volátil, mas ficou em torno de US$ 30.
O barril de petróleo abaixo de US$ 30 não interessa a ninguém, segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “A demanda caiu 35 milhões/bpd, o que equivale ao consumo dos EUA mais o da China antes da crise”, alertou. Ele ressaltou que a Opep decidiu determinar cortes futuros a partir de maio. “Arábia Saudita e Rússia estão tentando especular o preço do petróleo no mercado futuro, porque no presente os preços vão continuar caindo junto com o consumo. Os estoques estão altos, não tem onde armazenar petróleo no mundo”, disse.
Segundo Adriano, os dois países estão usando a arma geopolítica. No início do ano, a Arábia Saudita aumentou a produção em 30% para derrubar o preço e afetar os EUA. “Rússia e Arábia Saudita foram surpreendidos pela crise do coronavírus. Hoje só tem perdedor com barril a US$ 30. E a volatilidade deve se manter nas próximas semanas, porque a economia não vai se recuperar. O preço só vai voltar a remunerar quando a economia voltar a crescer”, observou.
Na opinião de Leonardo Trevisan, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM SP, Trump percebeu que o corte de 10 milhões/bpd seria insuficiente. “Ele tentou ganhar tempo no mercado, fazendo uma promessa de que o corte seria de 20 milhões. O mercado não comprou. Tanto que o preço foi extremamente volátil em torno de US$ 30 e US$ 31,5. No mercado futuro, houve queda de 2%. Ou seja, o mercado não acreditou nem no corte de 10 milhões/bdp”, disse.