PaÃses com dÃvida mais elevada e com déficits fiscais anteriores à crise do novo coronavÃrus devem ter um espaço mais limitado para agir, avaliou neste domingo, 12, o economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Martin Rama.
A instituição divulgou suas novas projeções de crescimento para a região. A expectativa é que a atividade econômica no Brasil encolha 5% neste ano, um dos piores desempenhos entre os grandes paÃses latinos.
Se confirmada a projeção do Banco Mundial, será a maior recessão que o Brasil enfrentará em 120 anos. Segundo estatÃsticas históricas do IBGE, não há registro de uma queda tão grande da atividade desde 1901.
Até hoje, o maior tombo na economia ocorreu em 1990, quando houve retração de 4,35% - foi o ano do Plano Collor I e do confisco do dinheiro dos brasileiros. A segunda maior queda já registrada foi em 1981, quando o PIB caiu 4,25% na esteira da crise da dÃvida externa brasileira.
Ao comentar as limitações fiscais, Rama não citou nenhum paÃs especÃfico. O Brasil, porém, já caminhava para ter em 2020 o sétimo ano seguido de rombo nas contas. A dÃvida bruta do PaÃs está em 76,5% do PIB, segundo dados de janeiro, um patamar considerado elevado para paÃses emergentes. "O quanto de assistência vai depender do espaço fiscal de cada paÃs", disse Rama.
Economistas já aventam a possibilidade de a dÃvida beirar os 100% do PIB com as medidas que estão sendo adotadas pelo governo Jair Bolsonaro no combate à crise.
Como prioridades, o Banco Mundial destacou a necessidade de ampliar programas sociais para abarcar o maior número possÃvel de trabalhadores que perderão sua fonte de renda devido à paralisação das atividades decorrente do isolamento social recomendado por autoridades de saúde.
No Brasil, o governo tem priorizado iniciativas temporárias, como o auxÃlio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais, que tem duração de três meses. Questionado se ações com esse perÃodo de tempo são suficientes, Rama disse que elas vão na direção correta. "O ambiente é de incerteza. Respostas à s que se pode agregando tempo é melhor do que fazer um programa longo que, no fim, pode ficar por tempo além do necessário", afirmou o economista.
Segundo Rama, um dos maiores desafios da região é o fato de que os Ãndices de informalidade na América Latina são maiores do que em paÃses desenvolvidos. "O sistema de seguro-desemprego não cobre todo mundo", afirmou.
Além das medidas de proteção social, os governos precisarão monitorar os riscos de uma crise financeira e, eventualmente, recapitalizar bancos para impedir impactos de proporções ainda maiores, alertou o Banco Mundial.
"Estamos tendo dificuldades financeiras internacionais, por capitais que saem, por empresas que não conseguem pagar dÃvidas", disse Rama. Ele defendeu transparência nas ações governamentais nessas frentes para evitar a "socialização de perdas" de maneira injusta, que penalize a população mais necessitada.
"Temos experiências em que se teve que fazer compra de ativos de má qualidade, isso teve custos econômicos, de confiança. Por isso enfatizamos necessidade de planejamento. Se chegamos a ter que fazer isso, temos que fazer com cuidado", ponderou. Segundo o economista, a comunicação nessa frente será quase como uma espécie de "pacto social".
Até agora, as projeções do Banco mostram uma retomada já em 2021, com crescimento de 2,6% na América Latina e no Caribe e de 1,5% no Brasil. Rama reconheceu, porém, que há uma "margem enorme de incertezas" e que será necessário monitorar os reflexos da pandemia para eventualmente fazer novos prognósticos.
Para conseguir fazer seus cálculos, o Banco Mundial inclusive precisou incorporar mais dados e novas fontes de informação à s suas análises. A instituição recorreu, por exemplo, a dados da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) sobre emissões de dióxido de nitrogênio, um poluente atmosférico emitido por chaminés industriais e cuja concentração pode servir de termômetro para o ritmo da atividade econômica. Na China, a concentração de NO² reduziu drasticamente no entorno de Pequim, capital do PaÃs.