A queixa faz parte de uma carta enviada ontem para o Banco Central e para o Ministério da Economia pelas seguintes entidades do varejo: Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Associação Brasileira de Franchising (ABF), Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e Confederação das Associações Comercial e Empresariais do Brasil (CACB).
De acordo com o presidente da Abrasce, Glauco Humai, os empresários não estão tendo o retorno esperado das medidas que o governo anunciou desde a semana passada para tentar estimular o mercado de crédito em meio à pandemia de Covid-19, provocada pelo novo coronavírus. Empresários estão tendo dificuldade para acessar as linhas de empréstimo prometidas com juros mais baixos. “Não basta anunciar. É preciso fazer o crédito e a renda chegarem aos pequenos lojistas e ao pequeno empreendedor. Nesse momento de crise, é importante o governo agir, fiscalizar e orientar”, destacou. Ele reforçou que o dinheiro não está chegando ao pequeno e médio empregador. “É preciso que o governo fique atento para isso e fiscalize mais”, orientou. Segundo o executivo, a sensação é de que há um movimento de aumento para depois haver uma redução quando o acesso for mais prático.
Contramão
Os aumentos nos juros, conforme as entidades apontam na carta, vão na contramão das medidas anunciadas pela autoridade monetária com o intuito de reduzir os juros para o tomador final. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou um pacote de até R$ 1,2 trilhão de medidas para elevar a liquidez no mercado de crédito, entre elas, a redução da alíquota do compulsório para depósitos de longo prazo que os bancos precisam deixar no BC, de 25% para 17%, injetando mais R$ 68 bilhões no mercado.
Humai contou que, até mesmo o pacote de R$ 40 bilhões anunciado na última sexta-feira para viabilizar empréstimos mais baratos via os bancos públicos para médias e grandes empresas está longe do acesso das empresas. Ele reclamou que ainda não sequer tem orientações claras de como os financiamentos podem ser acessados pelas empresas em um momento que é preciso agir com mais urgência no socorro às pessoas e empresas com necessidades para sobreviverem.
“Não queremos brigar com os bancos, que são nossos parceiros, mas o governo precisa tomar medidas para viabilizar o acesso ao crédito”, destacou o presidente da Abrasce. Ele reclamou que há uma queixa no mercado de que não há quem queira assumir o risco dessas operações no momento atual da pandemia e crise econômica. “Essa é a hora de o governo agir mais rápido”, afirmou.
Demora
No documento, as entidades solicitam maior atenção das autoridades a despeito das medidas de injetar liquidez no sistema financeiro nacional. “Observa-se o aumento expressivo das taxas, com médias superiores a 50% e, alguns casos superiores a 70%, em operações habituais do varejo”, informou o texto encaminhado a Campos Neto e ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na carta, as entidades destacam que os empregadores estão preocupados e se questionando sobre como conseguirão sustentar a folha de pagamentos e os custos operacionais durante esse período de confinamento e queda na atividade devido à pandemia. “É preciso oferecer alicerces para sustentação desses negócios e pessoas que dependem destas atividades, com o propósito de buscar garantir crédito para o varejista que está impedido de produzir e que já sente os impactos no negócio. Agilidade nesse momento é fundamental, e, para isso, se faz” , defenderam.
Uma das demandas que constam na carta é uso das redes operadoras de cartão de crédito, viabilizando a concessão via as operadoras, com taxas mais baixas do que as praticadas tradicionalmente para o crédito chegar ao pequeno empresário. As organizações também sugerem a criação de linhas específicas de capital de giro com juros reduzidos para o varejo e o setor de franquias para serem pagas em 60 meses, com carência de 24 meses.
Saiba Mais
De acordo com a carta, as entidades destacam que os setores de comércio e serviços representam mais de 5 milhões de negócios no país, sendo responsáveis por cerca de 70% do PIB e mais de 26 milhões de empregos diretos (com carteira assinada), são, sem dúvida, “agentes crítico nesta crise, não só pelo impacto profundo em suas atividades, mas por serem um eixo de sustentação econômica e social para os todos municípios do país”.
Procurados, o Banco Central e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), não comentaram o assunto. O Ministério da Economia também fez o mesmo e mandou direciona a demanda ao BC.