"O efeito contracionista da atual pandemia ensejou revisão da projeção de crescimento do PIB em 2020. Embora haja elevado grau de incerteza nessa projeção, ela foi revisada de 2,2%, publicada no Relatório de Inflação em dezembro, para estabilidade", diz o Banco Central.
A autoridade monetária admite, porém, que, além dos "impactos econômicos expressivos decorrentes da pandemia de COVID-19", contribui com essa mudança os "resultados abaixo do esperado em indicadores econômicos no final de 2019 e início de 2020". Afinal, o PIB do Brasil cresceu 1,1% em 2019 - desempenho considerado baixo pelo mercado, que influencia o crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre de 2020.
O BC também frisa, por sua vez, que o maior baque na atividade econômica deve acontecer no segundo trimestre, por conta da paralisação de diversos setores da economia brasileira, anunciada recentemente como uma forma de conter o pico de contágio do Covid-19.
"Em termos de trajetória, a projeção para o PIB anual considera recuo acentuado do PIB no segundo trimestre, seguido de retorno relevante nos últimos dois trimestres do ano", diz o BC no Relatório de Inflação, reforçando a perspectiva do governo de que essa pandemia será controlada ainda no primeiro semestre do ano.
A nova projeção de crescimento econômico do Banco Central, é similar à a projeção oficial do governo, que foi reduzida de 2,1% para 0,02% na semana passada também em função do coronavírus. E está em linha com os números esperados por parte do mercado. No mercado, contudo, também já há muito analistas falando em um estrago maior e, por isso, prevendo PIBs negativos em 2020. As projeções vão de -0,5% a -4%.
O BC explica, então, que ainda há um elevado grau de incerteza sobre o tamanho dessa pandemia e, consequentemente, sobre a extensão dos seus impactos econômicos. "A magnitude dos impactos da pandemia sobre a atividade econômica doméstica estará associada à gravidade e à extensão do período do surto no país e às medidas públicas que estão sendo adotadas nas diversas áreas", frisa.
Componentes do PIB
No âmbito da oferta, o Banco Central acredita que o maior impacto do coronavírus será sentido pela indústria. A autoridade monetária, que antes previa uma alta de 2,9% da produção industrial brasileira, agora prevê um baque de 0,5% no setor, "com perspectiva de menor crescimento em todas as atividades em função dos efeitos do surto de COVID-19".
Para a indústria de transformação, por exemplo, a projeção do BCcaiu de 2,1% para -1,3%, "motivada pela previsão de queda na demanda final, principalmente por bens de consumo duráveis e de capital, além da possível redução na oferta resultante das medidas de restrição de locomoção e da escassez de insumos importados em alguns segmentos".
Já a previsão da indústria extrativa recuou de 7,5% para 2,4%, "ante expectativa de menor demanda por minério de ferro e petróleo, em cenário de desaceleração mundial". E a indústria da construção, que é uma das maiores empregadores do país e poderia crescer 3% neste ano não fosse a pandemia do coronavírus, agora deve diminuir 0,5%, segundo o BC, por conta do "comportamento de maior cautela das famílias e dos empresários do setor".
Já o setor de serviços, que corresponde a cerca de 63% da economia brasileira e sustentou o PIB de 2019, também deve registrar um PIB zero em 2020, nas contas do BC, que antes projetava uma elevação de 1,7% do setor terciário. O número reflete a baixa das atividades do comércio, de transporte e de turismo diante da pandemia do Covid-19.
"Destacam-se as revisões em setores mais afetados por medidas de restrição de mobilidade: a projeção para o comércio recuou de 2,6% para -0,7%, a de transporte, armazenagem e correio, de 1,9% para -1,2%, e a de outros serviços, que engloba atividades como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas, de 2,2% para -1,1%", calcula o BC.
O setor de agropecuária, por sua vez, não deve ser impactado pela pandemia por enquanto, na opinião do BC. Por isso, a autoridade monetária manteve a perspectiva de alta de 2,9% do setor neste ano. E explicou esse número dizendo que a "redução moderada na estimativa de crescimento da pecuária, em razão dos impactos da pandemia sobre a demanda interna e externa por proteínas" deve ser compensada pela "melhora nos prognósticos para a safra de grãos".
Já sob a ótica da demanda, o maior baque deve ser dos investimentos. O BC reviu a sua previsão de formação bruta de capital fixo (FBCF) em 2020 de 4,1% para -1,1%, argumentando que o "ambiente de maior incerteza e a expectativa de recuo acentuado da atividade econômica devem ocasionar postergação de decisões de investimentos".
A projeção para o consumo das famílias, por sua vez, foi reduzida de 2,3% para 0,8%, "repercutindo impactos esperados da pandemia sobre o comportamento dos consumidores – maior cautela das famílias em relação aos gastos –, sobre a evolução da massa de rendimentos do trabalho, além dos efeitos decorrentes das medidas de distanciamento social e de restrições à mobilidade".
Já a perspectiva de alta das exportações brasileiras passou de 2,5% para 0,9%. E a das importações de 3,8% para 0,6%. Ambas por conta do coronavírus. E a projeção do consumo do governo sofreu uma pequena revisão, passando de 0,3% para 0,2%. " Apesar da estimativa de redução de receitas, o governo tende a preservar gastos essenciais em momento de crise", explicou o BC.