A Caixa Econômica Federal anunciou na última semana que os clientes poderão suspender, por até 60 dias, o pagamento de parcelas de financiamentos imobiliários. A medida — uma resposta emergencial aos efeitos do novo coronavírus com o objetivo de amenizar as dificuldades financeiras dos clientes — também foi adotada por outros bancos após determinação do Conselho Monetário Nacional. Nos financiamentos da Caixa, o valor das prestações será incorporado ao saldo devedor, e o pagamento será diluído durante a vigência do contrato. Até a última segunda-feira, mais de 100 mil pedidos de suspensão já tinham sido registrados, segundo o vice-presidente de Habitação do banco, Jair Mahl.
É possível solicitar o benefício para contratos habitacionais de pessoa física ou jurídica que estejam adimplentes ou com até dois encargos em atraso. Clientes que possuem operação de Crédito Imóvel Próprio, e que já possuam ao menos 11 parcelas pagas também se enquadram. Aqueles que utilizam o FGTS para pagamento das prestações, porém, não poderão usufruir do benefício. Não há limite de valor para os contratos e a solicitação pode ser feita via aplicativo ou telefone, para pessoas físicas, e por meio de contato com gerente, no caso de pessoas jurídicas. A negociação de outras dívidas também foi permitida pelo CMN.
No Itaú, a suspensão pode ser solicitada via contato telefônico. É preciso estar em dia com os pagamentos. Durante o período de suspensão, informou o banco, será mantida a mesma taxa de juros, sem a cobrança de multa e IOF. Já no Santander, a solicitação é feita no site da instituição.
A flexibilização dos pagamentos é vista com bons olhos pelo professor de Economia da UnB, Carlos Alberto Ramos. “Se a pessoa tem dívidas, perde o emprego ou passa a não ter renda, precisa renegociar com o banco, pois não tem como pagar agora. É uma crise que está acontecendo em quase todos os países. Essa é uma medida emergencial e o Banco Central está apoiando para que os bancos não fiquem no prejuízo depois”.
A dona de casa Osvalmere Gonçalves, de 52 anos, paga um financiamento da Caixa do programa Minha Casa, Minha Vida desde 2018. Para ela, a pausa no pagamento permitirá que ela se organize financeiramente para pagar outras contas. “Meu esposo foi acometido de uma enfermidade muito séria e eu trabalhava informalmente. Por ter que cuidar dele, tive que parar. Vai ser possível colocar algumas contas em dia” disse.
Osvalmere afirma que está preocupada com a falta de itens básicos. A doença do marido exige o consumo de remédios de alto custo, que estão em falta. “Em meio essa pandemia, eu tenho até medo de como vai ficar a questão de alimentação e a questão da medicação. Meu esposo pega a medicação na farmácia de alto custo, mas a que ele toma é a mesma que as pessoas estão falando que previne o vírus, e já está em falta nas farmácias por conta disso”, desabafou a dona de casa.
A servidora pública Maria Iza Gonçalves de Almeida, 54 anos, afirmou que não solicitará a suspensão do pagamento, “Estou conseguindo pagar minhas contas porque tenho emprego público, sou concursada. Mas está assustador. Nem todos os meus filhos são servidores, e alguns estão tendo um pouco de dificuldade”, explicou.