Economia

Fora de foco

Enquanto a pandemia de Covid-19 deixa estragos pelo mundo, o Banco Central do Brasil continua focando no socorro ao setor financeiro, na contramão das autoridades monetárias dos grandes países, avaliam especialistas. O pacote de R$ 1,216 trilhão anunciado ontem pelo BC não contempla ajuda ao contribuinte, e é tímido em medidas que possibilitem linhas de crédito favorecidas para pequenas e médias empresas, as que mais devem sofrer com a forte queda na demanda devido ao confinamento das pessoas em casa.

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), por exemplo, liberou US$ 300 bilhões para ajudar famílias, pequenas empresas e grandes empregadores, em uma ação inédita. A medida faz parte do megapacote fiscal do governo norte-americano, que pode chegar a US$ 2 trilhões. Uma das ações, por exemplo, é enviar um voucher ou cheque de US$ 1,2 mil para todos os cidadãos americanos, para que não fiquem desamparados ao não poderem sair de casa para trabalhar.

Conforme levantamento da Economática, o volume financeiro distribuído aos acionistas pelos quatro maiores bancos brasileiros — Santander, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco — em dividendos e juros sobre capital próprio somou R$ 58 bilhões no ano passado, o maior valor da série histórica iniciada em 2008. O levantamento não contou com o lucro da Caixa, de R$ 14,7 bilhões.

Riscos
“Os grandes bancos não precisam de liquidez. Eles têm recursos sobrando. O problema são os pequenos e médios, principalmente os que têm fundos imobiliários”, pontuou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas Gomes. “A crise, agora, não é de liquidez. O governo está tentando minimizar os riscos do bancos, mas não são eles que precisam ser salvos. É o emprego”, explicou.

A Alemanha anunciou, ontem, um conjunto de medidas que somam 750 bilhões de euros para enfrentar os efeitos do coronavírus na economia, focadas no socorro a pequenas empresas e ao consumidor, comparou o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB). “O governo alemão prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) da maior economia europeia deve encolher 5% neste ano. Diante disso, acho que o PIB do Brasil, que não tem um pacote da magnitude da Alemanha, pode encolher facilmente 15%”, afirmou. Ele defendeu mais medidas fiscais para socorrer os trabalhadores informais. (RH)