Ninguém tem dúvidas de que a pandemia do coronavírus vai provocar muitos estragos na economia mundial. Mas a comunidade brasileira de tecnologia e startups não quer se deixar abater por essa crise. Por isso, está tentando desenvolver soluções inovadoras que possam amenizar os efeitos da doença no Brasil e no mundo.
A ideia é usar a tecnologia para ampliar a produção e criar novos equipamentos de combate, prevenção e diagnóstico da Covid-19 e terá um apoio de pelo menos
R$ 11,3 milhões. O recurso será destinado aos empreendedores que possam entregar soluções rápidas e efetivas contra o coronavírus pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e pelo Porto Digital, o maior parque tecnológico do Norte/Nordeste do Brasil.
“A tecnologia pode nos ajudar a enfrentar esse momento. Não fosse ela, não teríamos o teletrabalho, por exemplo. Por isso, lançamos um desafio para tentar buscar soluções para os outros problemas provocados pelo coronavírus”, explicou o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena. “Vamos precisar de inovação para superar essa crise. Por isso, os 27 institutos de inovação do Senai estão em busca de soluções tecnológicas que possam ser implementadas nesse momento”, acrescentou o gerente-executivo de Inovação e Tecnologia do Senai, Marcelo Prim.
O Senai ainda abriu um chamamento público que vai oferecer R$ 10 milhões ao desenvolvimento de projetos capazes de gerar impactos efetivos para o enfrentamento do coronavírus nos próximos 40 dias. O recurso pode ser destinado tanto a fábricas que produzem materiais como álcool em gel, máscaras e respiradores mecânicos e, agora, precisam de novos processos ou peças para ampliar a sua produção; quanto para empreendedores e cientistas que têm novas ideias para o enfrentamento da Covid-19.
Já está em estudo no Senai, por exemplo, o desenvolvimento de formas químicas capazes de criar um álcool em gel alternativo, que compense a atual falta de estoque do produto. “Também queremos apoiar empresas que venham a desenvolver kits rápidos e baratos de teste do coronavírus”, contou Prim, dizendo que todas as propostas podem ser apresentadas ao Senai por meio da internet. O formulário da “Missão contra a Covid-19” está disponível no Portal da Indústria e só tem uma exigência: que os produtos e serviços possam ser rapidamente implementados e tenham alta escala. “Queremos ter isso em abril, quando provavelmente vai ser o pico da Covid-19 no Brasil”, explicou Prim.
Aglomerações
Da mesma forma, o Porto Digital abriu um edital de R$ 1,3 milhão para o desenvolvimento de sistemas tecnológicos que contribuam com os processos de monitoramento do grupo de risco, gestão do fluxo de informações, monitoramento do isolamento social, suporte aos agentes de saúde, teste e diagnóstico do coronavírus.
Presidente do parque tecnológico, Pierre Lucena explicou que, além de desenvolver novas formas de combate e diagnóstico da Covid-19, a tecnologia pode contribuir com a fiscalização das regras de quarentena que têm sido anunciadas por todo o Brasil. “Temos empresas de monitoramento que rastreiam as pessoas por meio do celular. É possível, então, monitorar onde há aglomerações de mais de 50 pessoas, que foram proibidas pelo governo [de Pernambuco]. Também é possível pensar em algum tipo de monitoramento do grupo de risco, dos idosos, que são mais vulneráveis ao coronavírus”, afirmou.
A iniciativa do parque tecnológico, que fica no Recife, teve o apoio financeiro da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco e do Ministério Público de Pernambuco e já recebeu mais de 200 propostas, inclusive de fora do Brasil. A expectativa é, portanto, que as primeiras soluções já comecem a ser desenvolvidas nos próximos dias. E tudo de forma remota, para que os empreendedores também protejam a sua saúde neste momento de pandemia.
“Os protótipos serão apresentados nesta segunda-feira. Depois, tudo terá que ser desenvolvido rapidamente”, contou Pierre Lucena, dizendo que a ideia foi tão bem recebida que outro edital desse tipo pode ser lançado em breve, desta vez com o financiamento da iniciativa privada.
Muitas empresas do setor, por sinal, já vêm trabalhando para usar suas tecnologias em prol do combate ao coronavírus. Segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), mais de 100 soluções desse tipo já foram mapeadas. São soluções que podem ajudar a população a se informar, prevenir, diagnosticar e tratar o coronavírus, mas também enfrentar essa crise da maneira recomendada pelos médicos: trabalhando remotamente, em casa, como já fazem muitos desses empreendedores de tecnologia. E que, por isso, serão listadas em breve no site e nas redes sociais da Abstartups.
Em parceria com a Comunidade Governança & Nova Economia (Gonew.co), a Abstartups ainda lançou a campanha #StartupsVsCovid19 para reunir essas iniciativas e incentivar que outras empresas façam o mesmo por meio das redes sociais. “Passou da hora de dizer que precisamos ficar em casa para prevenir o contágio. Chegou a hora de propormos soluções que possam contribuir de maneira positiva com esse momento”, afirmou o presidente da Abstartups, Amure Pinho. Segundo ele, as startups são essenciais porque tecnologia e celeridade já fazem parte da lógica de trabalho dessas empresas. “O ecossistema de inovação e as startups podem apresentar soluções que ajudem a mitigar direta ou indiretamente a Covid-19 e seus efeitos”, finalizou Pinho.