O clima de tensão que se espalhou pelo país está fazendo a população correr aos supermercados para estocar mantimentos, na contramão do que preconizam autoridades e representantes do setor. Dados preliminares da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontam aumento de 20% nas vendas nacionais dos supermercados na segunda semana de março. “Esse é um indício de que as pessoas estão começando a estocar alimentos. Mas considerando a crise, o impacto na economia será pior nos setores de bens duráveis, de modo geral, e de combustíveis, porque as pessoas devem se movimentar menos”, explicou Fabio Bentes, economista da entidade.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) vem recomendando aos consumidores que não entrem em pânico, porque o segmento tem capacidade de abastecer as redes pelo país. “O setor supermercadista brasileiro opera dentro da normalidade. O que pode acontecer é uma falta de um determinado produto até que a reposição seja normalizada. Mas não há risco de desabastecimento, apesar do aquecimento da demanda”, destacou o primeiro vice-presidente da Abras, João Galassi.
Galassi contou que a orientação no momento aos profissionais do setor é seguir as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para prevenir a Covid-19. Contudo, uma das principais medidas – passar o álcool em gel nos caixas e nos carrinhos –, não vem sendo seguido à risca em várias lojas, porque o produto já falta também para os supermercados. É o que aconteceu na loja do Big, em Águas Claras. “Em boa parte das lojas, estamos com dificuldade para repor o estoque, porque a indústria não está conseguindo suprir a demanda”, explicou a assessoria da rede.
Os supermercados no DF estão lotados por conta da preocupação dos brasileiros em não faltar comida devido à pandemia do coronavírus. Não são poucos os clientes que enchem dois ou mais carrinhos de compra. As seções que contêm arroz, feijão, óleo e macarrão são as mais movimentadas nos estabelecimentos visitados pelo Correio.
O empresário Wellington Rodrigues, de 36 anos, acredita que não vai demorar muito pra começar a faltar alimento Por isso, ele acredita que o melhor é estocar comida. “Estou bastante preocupado, porque tenho uma família e uma empresa da qual os funcionários dependem para sobreviver. As pessoas ficarão desesperadas e correrão pros supermercados. É nesse momento que a comida ficará escassa”, afirmou. Na avaliação de Rodrigues, é bom comprar comida para um mês ou mais, porque ninguém sabe quanto tempo vai durar a pandemia. “Vim comprar carne vermelha, arroz, feijão, óleo e açúcar, que são alimentos essenciais para sobreviver”, comentou o empresário.
Em contrapartida, Érica Fernandes de Moura, de 25 anos, desempregada, e a mãe, diarista, Marinete Macedo, de 53 anos, recomendam compras com parcimônia. Elas acreditam que é preciso evitar o pânico, apesar de admitirem que, a cada dia que passa, ficam mais preocupadas. “Estamos comprando aquilo que é necessário. Se comprarmos demais, e outras pessoas fizerem o mesmo, faltará para aqueles que realmente precisam”, ponderou Érica.
O advogado Patrick Pindola, 42 anos morador da Asa Norte, não está assustado em relação a um possível desabastecimento de supermercados. Para ele, o movimento continua normal. “Percebi que o movimento está igual a início e fim de mês. Até pensei em sair cedo de casa pensando que estaria cheio e sem produtos, foi tranquilo, igual aos demais dias” relatou.
* Estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza