A despeito das evidências em contrário, para uns o choque do coronavírus, além de durar pouco, não é tão sério assim ou é parte de uma ação conspiratória... Outros, como eu, ao contrário, sentem que a crise é brutal, demorada, e requer atenção especial, fora dos padrões convencionais.
Onde me insiro, parte-se de que o vírus se propaga com rapidez e força nunca antes vistas, de forma tal que, se nada for feito para impedir isso, o número de contaminados (deduzindo os recuperados) sobe tão rápido que, em pouco tempo, a demanda por leitos hospitalares, oriunda dos casos mais graves, tende a exceder a oferta desses equipamentos, oferta essa difícil de se ampliar a curto prazo, provocando “escolhas de Sofia” em todos os cantos. Atender a quem? Deixar para quem o risco de falecer? Dois subprodutos super-indesejáveis são o forte desequilíbrio nos mercados financeiros, incluindo a disparada do dólar, e o alto risco de uma desabada da atividade econômica, ou seja, uma brutal recessão mundial. Como os governos devem reagir? Estamos fazendo o que é melhor para o país?
O raciocínio deste artigo se baseia, em parte, em comentários selecionados nos últimos dias, em sítios tipo “YouTube”, e conversas com especialistas reconhecidos.
Dentro das limitações de um artigo como este, e sem qualquer intenção de exaurir o tema, parto de que o objeto número um nesse tipo de situação é evitar que tal escolha de Sofia se materialize.
Aqui entram meus muitos anos de enfrentamento de crises atuando em governos, para indicar que os principais responsáveis pela execução da parte central da estratégia de ajuste deverão ser as autoridades econômicas federais que, há vários anos, dizem para a autoridade monetária emitir toda a moeda requerida no financiamento de deficits primários (diferença entre gastos e receitas não financeiras) acima de R$ 100 bilhões por ano. Essa emissão monetária é depois “enxugada” pela colocação de títulos de curtíssimo prazo, pagando as moderadas taxas Selic de hoje. Sabe-se que a nova recessão aguda derrubará receitas e novos e expressivos gastos serão requeridos no processo de ajuste à crise. Daí, diante da emergência, mais do mesmo ter de ser feito, ainda que a política de tempos de paz viesse sendo de extrema contenção monetária, incluindo “tetos” de gastos, reformas voltadas para reduzir gastos etc.
A responsabilidade dos estados e municípios, nesse tipo de ataque emergencial, tende a ser bem menor, pelas competências diferenciadas e porque estes estão virtualmente quebrados. Mas serão parte do time que executará algumas das tarefas, sob apoio financeiro da União. Quanto ao time principal, seria uma força-tarefa chefiada pelo ministro Rogério Marinho, secundado pelo ministro da economia e pelos ministros da infraestrutura e da saúde. Ninguém mais. Sob o comando de Marinho, as tarefas seriam distribuídas por delegação do presidente, conforme ato a ser publicado. Cada estado teria seu comitê, que se atrelaria ao central.
A saída básica, conforme diagnóstico amplamente aceito, conteria três partes:
1 – um isolamento social drástico e compulsório, numa operação torniquete em que a cada dia vai parando uma atividade. Escolas já começaram. Depois todo o funcionalismo publico. Depois bancos (ficando abertos só os caixas eletrônicos), depois comércio. Até que fiquem somente farmácias e supermercados.
2 – testagem em massa. Uso de termômetros e câmeras detectoras de calor em aeroportos, portos, rodoviárias e postos da polícia rodoviária federal. Além disso, colocar à disposição da população os kits diagnósticos “pesquisa por rt-pcr para coronavírus Covid-19”, a custos populares e tudo isso pago pela área federal.
3 – garantia de suprimento de equipamento de segurança individual, ou seja, máscaras de todos modelos do mercado, óculos, químicos para desinfecção, capotes descartáveis para os profissionais da área da saúde e para a população em geral.
No final, a demanda por leitos cairá e, mais adiante, venceremos a crise.