O Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, em ação coordenada com os principais bancos centrais do mundo, praticamente zerou a taxa básica de juros ao promover, em reunião extraordinária nesse domingo, corte de 150 pontos no indicador, além de anunciar a liberação de US$ 700 bilhões para socorrer bancos e empresas em dificuldades.
A partir de hoje, os juros nos EUA oscilarão entre zero e 0,25% ao ano. O maior temor do BC norte-americano é que a maior economia do mundo mergulhe na recessão por causa dos efeitos do novo coronavírus.
O que deveria ser visto como uma boa notícia, no entanto, provocou uma nova onda de pânico nos mercados mundiais. O desconforto foi tão grande, que os mercados futuros de ações de Nova York desabaram. O índice Dow Jones, um dos principais indicadores da Bolsa de Nova York, despencou 1 mil pontos, atingindo seu limite de baixa. Os investidores ficaram assustados. Viram como um ato de desespero o movimento do Fed e dos demais BCs para reduzir os impactos do novo coronavírus na economia.
A percepção é de que o impacto será muito maior do que está se imaginando, com as principais economias do planeta praticamente parando. Ou seja, a recessão global já está contratada.
O Fed já vinha alertando para os riscos de a Covid-19 arrasar a economia mundial. Tanto que, há duas semanas, cortou, também de forma inesperada, os juros básicos em 0,5 ponto. Mesmo assim, o nível de atividade continuou perdendo força e as bolsas de valores derreteram.
Não por acaso, o banco Goldman Sachs revisou suas projeções para a economia norte-americana neste ano.
Agora, está prevendo variação zero para o Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e queda de 0,5% no segundo. Para o ano fechado, a estimativa é de avanço de apenas 0,4% ante crescimento de 1,2%.
A reunião oficial do Fed estava marcada para esta quarta-feira, quando se esperava um forte corte nos juros, mas o avanço do coronavírus nos Estados Unidos e nos principais países da Europa exigiu um movimento extraordinário. O Fed prevê uma crise tão brutal ou até maior do que a de 2008, quando o estouro da bolha imobiliária nos EUA deixou um rastro de prejuízos mundo afora.
Decisão “desastrosa”
O movimento do BC norte-americano faz parte de uma ação coordenada dos principais bancos centrais do mundo, que tentam evitar o colapso econômico provocado pelo coronavírus. Além do BC dos EUA, estão na lista o Banco Central Europeu e os BCs do Reino Unido, da Suíça, do Japão e do Canadá. O BC da Nova Zelândia também cortou juros nesse domingo, de 1% para 0,25% ao ano.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, a decisão do Fed é “desastrosa”, pois mais confunde do que esclarece as dúvidas de todos. No entender dele, ações de política monetária trazem mais ruídos do que solução. O problema agora, acredita ele, é fiscal. Os governo precisam agir para manter a economia funcionando.
Ele diz que governos e bancos centrais precisam salvar vidas e fazer com que recursos liberados cheguem diretamente às empresas, que estão fechando as portas sem perspectiva de retomada dos negócios enquanto a pandemia do novo coronavírus não for controlada.