Com um mercado cada vez mais atrativo, a capital ostenta o título de terceira maior consumidora de pescados no Brasil, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. Os dados estão no estudo O mercado do pescado em Brasília, feito pelo doutor Adalmyr Borges, especialista na área. De acordo com o relatório, 86% do que é comercializado em Brasília têm origem fora do Distrito Federal. Apenas 14% são originados no DF e Entorno.
A pesca na capital é restrita ao ambiente do Lago Paranoá, onde deve obedecer a uma série de requisitos. O uso de redes de superfície, artefatos explosivos ou substâncias químicas, por exemplo, é proibido. A aquicultura produz quase tudo o que é consumido por aqui.
No entanto, os últimos dados da Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE, publicados no fim de 2019, apontam que a produção total da aquicultura no Distrito Federal despencou de 820 toneladas em 2017 para 333 toneladas em 2018, uma diminuição de 59,3%. Com o resultado, passou a ocupar o último lugar no ranking nacional de produção na área. A lanterna era ocupada até então pelo Amapá, único estado com números menores do que o Distrito Federal em 2017.
Adalmyr Borges é coordenador do Programa de Piscicultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), explica que a capital segue a tendência nacional e consome muita tilápia e também espécies como o bacalhau. “Aqui a gente tem muito consumo de tilápia, tambaqui e pintado. Tilápia é o principal peixe criado no Brasil hoje, é um peixe que tem resistência a doenças, e é fácil de se obter o filé. A carne branca que não tem um gosto tão forte se adapta a vários tipos de pratos. Nos restaurantes, hoje há mais acesso ao filé de tilápia. Antes não tinha tanto”, afirma o especialista.
Ele também explica que a aquicultura em Brasília é limitada por conta do pouco espaço disponível. “Aquicultura no DF é reduzida por causa do espaço reduzido. Temos a questão das limitações de água, limitações hídricas. Nós já chegamos a produzir quase três mil toneladas de peixes. Em 2019, produzimos 1,7 mil toneladas”.
Porém, segundo Adalmyr, apesar das limitações de produção local, os números são satisfatórios. “Brasília consome 45 mil toneladas de pescados por ano. Se formos calcular essas 1,7 mil toneladas somente da produção local, levando em conta o preço médio das espécies de peixes, temos um mercado milionário, até bilionário. Temos aqui no Distrito Federal a maior quantidade de unidades de processamento de pescados do país, são 16. Isso gera muitos recursos para a economia local. Os produtores estão com boas expectativas para 2020. Nossa produção hoje é pequena, mas nosso mercado é grande”, revela o coordenador.
Entre 2013 e 2018, o período com maior produção no DF foi o de 2014, quando ultrapassou 2,5 mil toneladas. Os cinco maiores estados produtores em aquicultura no ano de 2018 foram Paraná, São Paulo, Rondônia, Santa Catarina e Minas Gerais, respectivamente.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR), em 2019, a produção brasileira na piscicultura subiu 4,9% em relação ao ano anterior e chegou a 758 mil toneladas. O Brasil reforça a posição de 4º maior produtor de tilápia do mundo. A espécie, aliás, já representa 57% da produção nacional e é o peixe mais consumido no país. Os pescados nativos mantêm-se fortes, com 38%. O maior produtor de tilápia por meio de piscicultura no Brasil é o estado do Paraná, com 146,2 mil toneladas em 2019. Esse número é 18,7% maior do que o de 2018. Em seguida estão São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Pernambuco.
Em relação aos peixes nativos do território brasileiro, a produção em 2019 recuou 4,7% em relação ao ano anterior. Nesta categoria, o tambaqui lidera. A produção concentra-se na maior parte dos estados da região Norte e uma pequena parte do Nordeste e Centro-Oeste. Rondônia é o estado campeão nesta categoria: 68,8 mil toneladas em 2019.
» Glossário
Aquicultura é o estudo e a prática de técnicas de cultivos de animais aquáticos. A piscicultura, por exemplo, é como se chama a criação de peixes. Existem também denominações como ranicultura, que é a criação de rãs; e algicultura, criação de algas. Outros bichos como jacaré, camarão, ostra e até mesmo tartaruga podem ser criados por meio dessa prática para consumo humano. Geralmente, a criação se dá em ambientes controlados, como tanques escavados e tanques-redes, que são gaiolas montadas em rios, lagos e no mar.