Em mais um dia de pânico nos mercados por causa do avanço do novo coronavírus, o dólar passou dos R$ 5 e o ministro da Economia, Paulo Guedes, acabou tendo que explicar uma declaração polêmica que fez, semana passada, quando disse que a moeda americana chegaria a esse patamar “se fizer muita besteira”. Ontem, minimizou a declaração e disse que foi mal-interpretado.
“Eu disse (que) ‘se fizermos besteira’, não era só o governo. Somos todos nós, o Congresso, o Senado, a Câmara, o presidente da República, os ministros, a opinião pública… Todos nós somos responsáveis”, saiu-se, criticando a interpretação da imprensa do que ele considera “deslizes de comentários” das autoridades. “É preciso tentar interpretar corretamente o que está sendo construído”, acrescentou.
Na semana passada, após encontro com empresários na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), em que se desenhou um cenário muito mais otimista do que o atual, o ministro afirmou que “se fizer muita besteira, o dólar pode chegar a R$ 5”.
Serenidade
Em meio ao clima de tensão dos mercados financeiros doméstico e internacional, Guedes minimizou as crises externas e entre os Poderes e reforçou que o momento é de “serenidade”, apesar da derrota que o Executivo teve no Congresso, com a derrubada do veto sobre BPC –– um rombo de R$ 20 bilhões nas contas do Tesouro.
“É hora de União. A saúde do Brasil está acima dessas disputas políticas. Vamos conversar sobre isso. E foi muito interessante porque entramos, então, na terceira dimensão da crise. De um lado, temos um problema de saúde pública muito sério; por outro lado, nós temos capacidade e velocidade de escape para manter a nossa decolagem. Nós estávamos em pleno voo, começando a decolar, quando fomos atingidos por essa onda”, afirmou, referindo-se ao pânico causado pela pandemia do coronavírus.
Mas acrescentou: “O governo, de um lado, mandou sinais e o Congresso não gostou, e mostrou que também pode fazer coisas que não são construtivas”, afirmou, reforçando a necessidade do diálogo e do avanço das 16 propostas prioritárias elencadas pela pasta, em uma carta enviada ao Legislativo. Para ele, o país não está sincronizado com a economia mundial.
“Temos capacidade econômica de produzir uma dinâmica diferente”, afirmou. “Estamos seguros de que o Brasil pode ter uma dinâmica própria. Nós temos que manter o curso e manter a serenidade. Vamos aprofundar as reformas”, reforçou.
O dólar chegou a subir mais de 6%, superando o patamar de R$ 5 pela primeira vez na história. Com a atuação ampliada do Banco Central, que chegou a colocar US$ 2,5 bilhões no mercado à vista, encerrou o dia com alta de 1,38%, a R$ 4,786 para a venda. Este é o maior valor nominal, sem considerar a inflação, desde a criação do Plano Real. No ano, a valorização é de 19,26%.
O Tesouro Nacional ainda informou que, em coordenação com o Banco Central, deu início a um leilão de compra e venda de títulos públicos, que começou ontem e vai até o dia 18 de março. Os valores dependerão da demanda.