Depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fechou as fronteiras para não residentes, com a suspensão de voos vindos do exterior, as companhias aéreas estão anunciando redução da oferta. O setor é um dos mais afetados pela pandemia de coronavírus e a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) pediu aos governos que se prepararem para o impacto econômico negativo das medidas, por conta das dimensões do mercado europeu — de onde somente serão recebidos voos da Inglaterra e da República da Irlanda. Não à toa, ontem, as ações que mais caíram na bolsa brasileira são de empresas aéreas.
O Grupo Latam Airlines e suas filiais informaram a diminuição de aproximadamente 30% de seus voos internacionais, devido à baixa demanda e restrições de viagens por conta do avanço da Covid-19. Por enquanto, a medida será aplicada principalmente para voos da América do Sul à Europa e aos Estados Unidos, entre 1º de abril e 30 de maio de 2020.
“Diante de um cenário complexo e extraordinariamente dinâmico, o Grupo Latam está tomando medidas imediatas e responsáveis para resguardar a sustentabilidade da empresa a longo prazo, protegendo os planos de viagem dos passageiros e buscando cuidar do emprego dos seus 43 mil funcionários. Ao mesmo tempo, manteremos flexibilidade para tomar medidas adicionais caso seja necessário, devido à velocidade com que os eventos estão acontecendo”, afirmou Roberto Alvo, atual vice-presidente comercial e próximo CEO da Latam.
Em nota, o grupo afirmou que “seguirá mantendo seus rígidos protocolos de segurança e higiene para proteger o bem-estar dos seus passageiros, tripulação e equipes de solo e implementou procedimentos especiais de limpeza para suas aeronaves, que possuem um sistema de recirculação que renova o ar nos aviões a cada três minutos, com sistemas de filtro de última geração”. Segundo a empresa, não houve impacto nos mercados domésticos.
“O momento atual é atípico, e os governos estão tomando medidas sem precedentes. A segurança, incluindo a saúde pública, é sempre uma prioridade. As companhias aéreas estão cumprindo esses requisitos. Os governos também devem reconhecer que as companhias aéreas, que empregam aproximadamente 2,7 milhões de pessoas, estão sob extrema pressão financeira e operacional e precisam de apoio”, disse Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da Iata.
Segundo a associação, em 2019, havia cerca de 200 mil voos programados entre os Estados Unidos e o Espaço Schengen (acordo entre países europeus de abertura das fronteiras), o equivalente a cerca de 550 voos por dia e, aproximadamente, 46 milhões de passageiros, por volta de 125 mil viajantes por dia. “Os governos devem impor as medidas que considerarem necessárias para conter o vírus e devem estar totalmente preparados para fornecer apoio e ajudar a diminuir os prejuízos econômicos que isso causará. Em tempos normais, o transporte aéreo promove o crescimento e desenvolvimento econômico. A suspensão de viagens em uma escala tão ampla criará consequências negativas em toda a economia. Os governos devem reconhecer isso e estar prontos para apoiar”, disse Juniac.
No dia 5 de março passado, a Iata estimou que a crise pode acabar com cerca de US$ 113 bilhões em receita. Esse cenário não incluía medidas tão severas, como a decisão recente dos Estados Unidos e de outros governos, como Israel, Kuwait e Espanha. O valor total do mercado EUA-Espaço Schengen, em 2019, foi de US$ 20,6 bilhões.
Ressarcimento
A Associação de Consumidores Proteste explicou que as companhias aéreas devem ressarcir o consumidor que decidir cancelar uma viagem à Europa em razão do coronavírus. Segundo o diretor de Relações Institucionais e Mídia da Proteste, Henrique Lian, as empresas também devem remarcar a viagem sem custos. “Esta é uma situação muito excepcional, chamada de emergência de saúde pública. No caso da Itália, por exemplo, é mais sério ainda, porque há medidas das autoridades locais para que as pessoas não entrem ou saiam do país. Portanto, tanto uma empresa aérea pode cancelar seus voos para a Itália quanto o passageiro pode desistir dessa viagem”, afirmou.