Os dados também não levam em conta a recente alta do dólar, que tem ficado acima de R$ 4,65. Com isso, o Boletim Macro Fiscal da Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, divulgado nesta quarta-feira (11/03) está defasado em relação ao novo cenário global desenhado nesta semana.
“Na repercussão, esse choque ainda não foi incorporado (aos cálculos)”, afirmou o subsecretário de Política Macroeconômica da SPE, Vladimir Teles, durante a apresentação do Boletim da secretaria. Segundo ele, apenas o impacto do novo coronavírus foi considerado nessa avaliação, cujos dados foram compilados até a semana passada, ou seja, não captou a piora no cenário internacional com a propagação do vírus pelo mundo e pela guerra de preços travada entre a Rússia e a Arábia Saudita, que sinalizaram aumentar a produção da commodity diante da desaceleração da atividade mundial e, consequentemente, da demanda pelo produto.
Os modelos rodados, na pior das hipóteses, consideram uma queda na taxa de crescimento do PIB de até 0,66 ponto percentual. “Ainda não sabemos o verdadeiro impacto do choque dos preços de petróleo. Se for um choque momentâneo, o impacto no crescimento mundial será pequeno. Tudo vai depender da natureza do choque”, explicou.
Com isso, de acordo com os técnicos da equipe econômica, o valor do barril que será considerado na grade de parâmetros para compor o primeiro relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas do ano, que será divulgado na próxima sexta-feira (20/03), levará em consideração do barril a US$ 52,70. E o câmbio, considerando as estimativas de mercado, vai considerar a média atual de R$ 4,22 para o dólar.
Esses dados, com certeza, vão trazer distorções ainda maiores para o contingenciamento do Orçamento que será anunciado junto com o relatório, porque ele poderá ser menor do que o realmente necessário para que o governo cumpra a meta fiscal deste ano, que permite um rombo de até R$ 124,1 bilhões nas contas públicas.
Os números estão sendo fechados, mas ao ser questionado sobre os dados otimistas e defasados com a realidade e subestimando a crise, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, respondeu que os parâmetros refletem “um corte temporal” que precisa ser feito junto os demais órgãos do governo. “Não está ocorrendo subestimação da crise de jeito nenhum. Checamos todos os canais e estamos preparando uma modelagem para incluir outros choques de segunda-feira”, afirmou. “Temos um cronograma a ser seguido, e o dado que vai ser usado na sexta-feira não vai considerar o movimento do petróleo. Existe uma linha de corte para essa análise”, adicionou.
A mediana das projeções do mercado na última segunda-feira (9/03) estima crescimento de 1,99% para o PIB deste ano, mas é crescente o número de analistas cortando novamente as previsões devido ao cenário de desaceleração global. A consultoria britânica Capital Economics, por exemplo, desde a semana passada, prevê avanço de 1,3% do PIB brasileiro em 2020. Essa é a nova previsão do UBS, que revisou recentemente. Antes, o banco suíço previa alta de 2,1%