Economia

Bolsa volta ao nível de maio do ano passado

Ibovespa sucumbe a nova onda de pessimismo nos mercados globais e acumula desvalorização de 5,93% na semana. No ano, queda é de 15,26%. Intervenções do BC no mercado de câmbio seguram dólar, que recua 0,39%, para R$ 4,63



Em nova onda de pânico nos mercados, devido à epidemia do coronavírus, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) voltou a ficar abaixo de 100 mil pontos pela primeira vez desde outubro passado. O Ibovespa, principal índice da B3, registrou queda de 4,14%, ontem, registrando 97.996 pontos, o menor patamar desde maio de 2019, considerando o histórico de fechamentos mensais da B3. Na semana, o indicador teve queda de 5,93%, acumulando, no ano, um tombo 15,26%.

Desde 21 de fevereiro, véspera do carnaval, o índice VIX, da Bolsa de Chicago, conhecido como “índice do medo”, subiu 36 pontos, atingindo 54 pontos, o maior valor desde janeiro de 2009, de acordo com dados levantados pelo Banco Fator. Esse indicador, que mede a volatilidade dos mercados, voltou ao patamar registrado em 2009, logo após a crise financeira global de 2008.

Diante da perspectiva de desaceleração da economia global devido ao impacto da epidemia e à recusa da Rússia em cortar a produção, o barril do petróleo tipo Brent despencou 8,9% em Londres, para US$ 45,45. Na B3, as ações da Petrobras ficaram entre as cinco maiores quedas, puxadas pelo tombo da commodity. As ordinárias da estatal (ON) registraram desvalorização de 10,26% e as preferenciais (PN), de 9,73%. Em Nova York, o Índice Dow Jones caiu 0,98% enquanto a bolsa das empresas de tecnologia Nasdaq recuou 1,87%. Londres teve baixa de 3,62% e Frankfurt, de 3,37%.

No mercado de câmbio, depois de renovar a máxima histórica, alcançando R$ 4,651 na quinta-feira, o dólar registrou queda de 0,39%, cotado a R$ 4,633 para a venda, após o segundo dia seguido de intervenção do Banco Central, que injetou US$ 2,5 bilhões ontem no mercado após leiloar US$ 3 bilhões na véspera. A autoridade monetária anunciou na noite de ontem que resolveu queimar US$ 1 bilhão de reservas na manhã de segunda-feira, realizando a terceira intervenção consecutiva no mercado.

Desde o carnaval, o real perdeu mais de 5%, enquanto a maioria das moedas emergentes teve quedas de, no máximo, 4,30%. No mercado, ainda há dúvidas sobre qual patamar em que o câmbio vai se manter daqui para frente. A expectativa é de que ele não ficará abaixo de R$ 4,10 até o fim do ano. As perspectivas de riscos para os países emergentes, que dependem das exportações de commodities, pioraram. O CDS (Credit Default Swap) para os títulos soberanos brasileiros voltou subiu 21%, para 133,8 pontos, nos contratos de cinco anos.

Nesse cenário, as previsões para a atividade neste ano estão em queda livre, deixando operadores em estado de alerta para uma desaceleração maior na economia doméstica, que cresceu apenas 1,1% em 2019. “Tivemos um crescimento do PIB bem fraco, ainda mais se colocarmos na balança os últimos anos. Mesmo com a aprovação da reforma da Previdência e com estímulos fortes do governo, como a liberação do FGTS e os quatro cortes de juros no ano passado, estamos em um processo de retomada muito incipiente. É preciso um senso de urgência, o carnaval já terminou e é hora de recomeçar a discutir as reformas para compensar isso”, destacou o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman.

Incertezas


O Itaú Unibanco aposta que o Banco Central pode fazer novos cortes na taxa básica de juros (Selic) a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 17 e 18 deste mês. A instituição prevê que a Selic encerrará 2019 a 3,75% ao ano. Atualmente, a taxa está em 4,25%, o menor patamar da história.

Uma das incertezas do mercado é que novas reduções de juros por parte do BC podem estimular ainda mais a alta do dólar e pressionar a inflação, o que deixa o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, num dilema. Com a economia em frangalhos, contudo, a aposta é de nova baixa da Selic. Ontem, o Itaú reduziu de 2,2% para 1,8% a previsão de crescimento do PIB brasileiro. A equipe econômica liderada pelo economista Mário Mesquita manteve em R$ 4,15 a previsão para a taxa de câmbio no fim deste ano e no próximo.

O economista da G2W Investimentos, Vitor Hugo Fonseca, demonstrou dúvidas em relação ao efeito dos recentes cortes de juros dos bancos centrais de vários países para estimular a economia. “Ainda não temos certeza de que essas medidas possam ser suficientes para conter os impactos da desaceleração provocada pelo novo coronavírus. No radar vemos todos falando que vai, sim, evoluir para uma pandemia. Na Inglaterra, uma companhia aérea já faliu, reforçando o setor mais afetado do mundo e avisando que realmente o vírus vai causar danos que vão perdurar”, afirmou.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo