Não é só na Bolsa de Valores e no dólar que o coronavírus vem afetando a economia nacional. O número de fábricas que estão com a produção afetada por falta de demanda ou atraso no fornecimento de materiais, é cada vez maior. O setor automobilístico, que representa cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, admitiu que pode até parar a produção no fim deste mês caso continue sem receber peças da China.
“Existe risco de parada de produção no final do março? Existe. Existe risco de parada de produção em abril? Existe”, reconheceu, nesta sexta-feira (6/3), o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. Ele explicou que 13% dos componentes do setor vêm da China, que está com parte da produção e dos portos parados por conta do risco de contágio do coronavírus.
“Em tese, temos estoques para continuar produzindo nas próximas semanas. Mas também tem um risco. Por isso, os times de logística de todas as montadoras estão monitorando peça a peça, dada a complexidade do problema”, afirmou Moraes. Ele explicou que, às vezes, tem navio, mas não tem peça; às vezes, tem peça, mas não tem navio; e, às vezes, falta peça até de fornecedores que não são chineses, mas dependem de importações da China para produzir. “Houve uma desorganização na logística”, disse o presidente da Anfavea, lembrando que, além disso, pesa o fato de que os navios levam, pelo menos, oito dias para fazer a rota China — Brasil.
Problemas
A indústria de eletrônicos, que é altamente dependente das peças chinesas, sabe bem disso. Sondagem realizada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) revela que 57% das empresas do setor já tiveram problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos provenientes da China. A LG, por exemplo, parou por 10 dias a produção da sua fábrica de celulares de Taubaté, no interior de São Paulo e deu férias coletivas aos trabalhadores.
Outras companhias podem ter que fazer o mesmo em breve: segundo a Abinee, 4% das fábricas do setor estão operando com paralisação parcial e outras 15% programaram interrupções. Sondagem realizada pela XP Investimentos com 529 empresas, de todos os setores da economia brasileira, acrescenta que apenas 11% delas não esperam sofrer nenhum efeito do coronavírus. A tendência é de que os impactos afetem, sobretudo, grandes companhias, que estão mais conectadas ao fluxo global de mercadorias.
“Todas as alternativas estão sendo avaliadas”, ponderou o presidente da Anfavea. Ele disse, ainda, que, em vez de férias coletivas, o setor pode optar por ajustes mais finos, como mudanças no ritmo de produção. Outra possibilidade é tentar trazer as peças que ficaram presas nos portos da China por transporte aéreo. Porém, esse setor é um dos mais afetados. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) informou, nesta sexta-feira (6/3), que, em janeiro, quando o coronavírus ainda estava começando a se espalhar pela China, a demanda pelo transporte aéreo de carga caiu 3,3%. Com a propagação da doença pelo mundo, a situação se agravou, embora não existam dados mais recentes.
Da mesma forma, as previsões não são boas para o transporte aéreo de passageiros, visto que cada vez mais pessoas estão adiando viagens, e algumas empresas estão preferindo suspender rotas com medo do contágio, a exemplo da Latam que interrompeu voos entre São Paulo e Milão. “As estimativas apresentadas pela Iata dão conta de que, em 2020, o tráfego global de passageiros será reduzido entre 11% e 19%, e que o setor de transporte de passageiros terá perdas entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões em receita, não incluídas as perdas no transporte de cargas”, revelou nesta sexta-feira (6/3) a associação.