A expectativa de que o Brasil recebesse uma nova rodada de investimentos já no início do governo de Jair Bolsonaro não se consolidou. Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mede a aplicação de recursos em máquinas, equipamentos e construção de unidades de produção, avançou 2,2% em 2019, menos do que os 3,9% vistos em 2018. Além disso, no último trimestre do ano passado, houve queda de 3,3% em relação aos três meses anteriores. Foi o pior desempenho trimestral desde o fim de 2015, quando o Brasil estava imerso na sua maior crise econômica.
Com isso, o nível dos investimentos como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 15,2% para 15,4%, mas permaneceu 21% abaixo do período pré-recessivo, segundo cálculos da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
“O comportamento dos investimentos segue claramente aquém do esperado, com queda de 3,3% no 4º trimestre e ritmo de recuperação muito lento, mesmo ao se analisar a média móvel de quatro trimestres”, avaliou a consultoria Modalmais logo após o IBGE divulgar os números do PIB brasileiro em 2019. Economista-chefe da empresa, Álvaro Bandeira acrescentou que o resultado prejudica o crescimento futuro da economia, ou seja, o PIB de 2020, cujas previsões já vêm sendo revistas para baixo por conta da epidemia do coronavírus. A XP Investimentos também classificou a “deterioração da formação bruta de capital fixo” como um destaque negativo do PIB.
De acordo com analistas, as turbulências políticas e a dificuldade na aprovação das reformas econômicas abalaram a confiança dos empresários em 2019. “Com o atraso das reformas e o ambiente de insegurança política, a confiança foi se diluindo ao longo do ano. O investidor ficou com o freio de mão puxado”, explicou o economista da Bluemetrix Ativos, Renan Silva. Segundo ele, o cenário pode se repetir neste ano. “Já estamos em março, continuamos com um retardo nas reformas e o coronavírus ainda está inibindo os investimentos. Os empresários estão esperando um ambiente mais seguro para investir”, afirmou.
Marcelo Azevedo, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), disse que o setor não investiu com força em 2019 porque a demanda interna só ganhou peso no segundo semestre. E, neste início de 2020, o cenário continua incerto. “A intenção de investimento foi afetada. Está em compasso de espera por sinais mais claros de retomada”, afirmou.