Economia

PIB de 1,1% desaponta e piora cenário de 2020

Resultado das contas nacionais em 2019 mostra esfriamento do consumo e investimentos em queda. Expansão da produção foi a menor dos últimos três anos. Ministro da Economia, porém, vê atividade econômica em aceleração


O desempenho frustrante da economia brasileira em 2019 colocou em xeque a política econômica do governo Bolsonaro. Apesar da promessa, no início do ano passado, de uma expansão de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em relação a 2018, as contas nacionais, divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entregaram menos da metade: um crescimento tímido de 1,1%, o menor desde o início da recuperação da crise econômica. Tanto em 2017 quanto em 2018, a atividade econômica registrou altas de 1,3%. Para os especialistas, os números do IBGE acenderam um alerta, e várias instituições revisaram para baixo as projeções para 2020.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, no entanto, minimizou o resultado. Disse não entender a “comoção” em torno do PIB de 1,1%. “O que eu havia dito no início do governo? Que, no primeiro ano, nós íamos crescer 1%. Saiu 1,1%. Então, está dentro do previsto. No segundo ano, seguindo as reformas, vamos crescer mais de 2%. Se olharem o segundo semestre do ano passado, foi o melhor desde 2013. No último trimestre de 2019, já estava crescendo 1,7%. Então, a economia está acelerando lentamente, esperando pelas reformas”, justificou.

Segundo Guedes, ao contrário do mercado, que vem revendo para baixo as estimativas de crescimento da economia, o governo continua acreditando em expansão acima de 2% em 2020. A projeção atual é de 2,4%. Integrantes da equipe econômica já avisaram que esse número será revisado na próxima semana e o ministro adiantou que a nova projeção não será tão drástica quanto a do mercado. Algumas instituições estimam PIB bem abaixo de 2% este ano (veja mais no quadro ao lado). “A gente ainda acha que é acima de 2%, prosseguindo as reformas, mesmo com o coronavírus”, afirmou Guedes.

Bananas

Se o ministro negou as estimativas iniciais do governo e ainda não enxerga o mesmo cenário que a maioria dos economistas do país para 2020, o presidente Jair Bolsonaro foi mais drástico sobre o PIB pela manhã e, literalmente, jogou bananas para o desempenho da economia nacional, ao colocar um humorista para dar entrevistas em seu lugar. No fim da tarde, reconsiderou e decidiu comentar o PIB de 1,1%. “Baixou um pouquinho em relação ao Temer, mas nós estamos com o melhor semestre desde 2013”, disse. O presidente ainda sugeriu que a equipe econômica faça previsões mais moderadas daqui para frente.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse não acreditar que as reformas e os investimentos serão suficientes para organizar a economia do país. “São instrumentos importantes para ajudar o crescimento econômico brasileiro, mas só o setor privado não vai resolver. A gente não consegue organizar um país apenas fazendo reformas, cortando, cortando, cortando... A grande mensagem do PIB é que a participação do Estado será sempre importante para que o Brasil possa crescer e se desenvolver”, afirmou o parlamentar.

Os números do IBGE mostram queda nos investimentos e nas despesas públicas em 2019. O consumo do governo caiu 0,4% e a Formação Bruta de Capital Fixo passou de alta de 3,9%, em 2018, para 2,2% no ano passado, registrando, ainda, queda de 3,3% no quarto trimestre em relação ao terceiro. O desempenho da indústria foi pífio, com alta de 0,5%. A agropecuária devolveu um pouco dos ganhos nos trimestres anteriores e fechou o ano com alta de 1,3%.

“O PIB cresceu 1,1% em 2019, puxado, principalmente, no consumo das famílias e dos serviços”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. “Os dados mostram que a economia é completamente ancorada no consumo das famílias, que pesa 65% da economia. Os serviços pesam três quartos e cresceram 1,3% no ano passado”, acrescentou.

A produção de riquezas do país atingiu R$ 7,3 trilhões em 2019 e o PIB per capita avançou 0,3% em termos reais, alcançando R$ 34.533. A taxa de investimento subiu de 15,2% em 2018 para 15,4% do PIB no ano passado, ainda distante dos 25% necessários para impulsionar um crescimento sustentável. Já a taxa de poupança caiu de 12,4% para 12,2% do PIB.

Os dados do quarto trimestre de 2019, com alta de 0,5% na margem, mostram desaceleração ante o período anterior, de 0,6%. No entanto, para a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, o país sofreu especialmente no primeiro trimestre de 2019, com choques negativos, como a tragédia de Brumadinho, a crise na Argentina e a guerra comercial entre China e Estados Unidos. “Houve aceleração no segundo semestre, com aquecimento do mercado de trabalho e do crédito livre.” No entender de Ricardo Balistiero, coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, quem salvou o consumo das famílias foi a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). “Uma política nada liberal, para um governo que se diz liberal”, comentou.