De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vários fatores explicam o crescimento do indicador no ano passado. Entre eles, a redução da taxa básica de juros, que facilitou o acesso das famílias ao crédito; a inflação controlada, que dá mais poder de compra aos trabalhadores; e a leve redução do desemprego e o discreto aumento da massa salarial.
Foi graças a essa conjunção de fatores que o agente de portaria Lucas André conseguiu ficar com as contas em dia e ainda comprar a casa própria em 2019. “E este ano gastarei mais, porque vou casar”, disse ele. Outro fator fundamental foi a liberação de recursos das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). “Com a ajuda do saque do FGTS, consegui pagar minhas dívidas no ano passado e já comecei este ano gastando mais do que poderia”, atestou a moradora do Riacho Fundo, Kelly Oliveira.
Com todo esse estímulo, os analistas, contudo, esperavam que o consumo das famílias aumentasse mais do que 1,8%. Eles também não esperavam um crescimento de apenas 0,5% nesse indicador no último trimestre de 2019, quando o consumo é normalmente impulsionado pela Black Friday e pelas festas de fim de ano. “Mesmo com o FGTS, o resultado veio um pouco abaixo do esperado e cresceu até menos que nos anos anteriores”, observou o economista Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Incerteza
Azevedo atribui esse cenário à incerteza sobre a recuperação econômica e, sobretudo, ao fato de que, apesar de ter caído ao longo de 2019, o desemprego ainda atinge 11,9 milhões de brasileiros. “Há um receio de ampliar o consumo, porque o mercado de trabalho está fraco”, explicou. “O grande desafio para a economia brasileira nos próximos anos é reativar o mercado de trabalho, que tem níveis recordes de subutilização e informalidade elevada”, reforçou o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes.Ainda nesta quarta-feira (4/3), pesquisa divulgada pelo SPC Brasil revelou que, mesmo com a proximidade do saque-aniversário do FGTS, que começará a ser liberado em abril, quatro em cada 10 brasileiros pretendem reduzir gastos neste ano. Kelly Oliveira é uma delas. Ela explica que, além do medo do desemprego, acha que os preços e os juros continuam altos, mesmo após a redução da Selic e da inflação.
Mesmo assim, segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o consumo das famílias seguirá sendo destaque no PIB em 2020. “Essa percepção de necessidade de ajuste no orçamento acontece por conta do momento econômico atual”, explicou Marcela. “O mercado de trabalho vem melhorando gradativamente, a inflação está baixa e taxa de juros, também, o que gera renda para o trabalhador e impulsiona o crédito”, avaliou.