Economia

Desemprego em leve queda

Taxa de desocupação fica em 11,2% no trimestre encerrado em janeiro, segundo o IBGE, mas o país ainda tem 11,9 milhões de desempregados. Recuo no indicador, além disso, foi provocado pela diminuição do número de pessoas à procura de uma vaga



Todo dia, Maria do Socorro Valente, 43 anos, sai de casa com uma pilha de currículos debaixo do braço. Ela está desempregada desde o fim do ano passado, quando saiu da casa onde trabalhava como empregada doméstica, e procura insistentemente um novo emprego para poder continuar bancando os estudos. Ontem, foi à Agência de Trabalho do Distrito Federal. E ela não era a única por lá. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11,9 milhões de pessoas começaram o ano à procura de um emprego no Brasil.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (Pnad), divulgada ontem, a taxa de desemprego marcou 11,2% no trimestre encerrado em janeiro. O dado é maior que os 11% vistos no fim de 2019, quando havia 11,6 milhões de desempregados no Brasil. O IBGE diz, porém, que essa comparação não é adequada. Segundo o órgão, o correto é comparar essa taxa com a do trimestre imediatamente anterior e com a do mesmo trimestre do ano passado, quando o desemprego estava em 12% e 11,6%, respectivamente. Mas o IBGE admite que a explicação para o recuo não é positiva.

O desemprego não foi puxado para baixo porque mais gente encontrou um trabalho neste início de ano — já que a população ocupada continua estável em 94,2 milhões de pessoas —, mas porque o número de desempregados que  procuram uma nova ocupação diminuiu. Segundo o IBGE, 873 mil pessoas entraram no contingente de brasileiros que está fora da força de trabalho só nos últimos três meses. Esse grupo somava 65,7 milhões de pessoas no último trimestre, o maior montante da série histórica da Pnad Contínua, que começou em 2012. Nesse total, encontram-se pessoas que, por algum motivo, como necessidade de se concentrar nos estudos ou se dedicar a atividades familiares, não estão interessados em trabalhar. Também se incluem aqueles que se cansaram de procurar emprego ou que não têm mais dinheiro para fazer como Maria do Socorro e pegar um ônibus até a agência de trabalho. São os chamados desalentados, que chegam a 4,7 milhões no país..

“No trimestre encerrado em janeiro, houve um crescimento bastante acentuado da população que está fora da força de trabalho. Ou seja, há menos pessoas procurando emprego e pressionando o mercado de trabalho, o que faz a taxa de desemprego cair”, explicou a gerente da Pnad, Adriana Beringuy. Ela ainda disse que, normalmente, esse movimento acontece no início de ano em função das férias de janeiro, que faz as pessoas adiarem a ida à agência de trabalho e dura fevereiro, mas ocorreu com maior intensidade neste começo de 2020. A alta foi de 1,3% em relação ao trimestre anterior — o maior crescimento percentual desde 2012.

“Além do efeito sazonal, há a questão do desalento. Afinal, a procura por um emprego tem um custo financeiro, psicológico e físico. Quando as pessoas percebem que não estão conseguindo achar trabalho, param de procurar”, explicou o pesquisador da área de economia aplicada do FGV Ibre, Daniel Duque, dizendo que a situação de desalento tem sido incentivada pelo ritmo lento de recuperação da economia e, consequentemente, do mercado de trabalho. O mercado ainda está longe de absorver todos aqueles que ficaram desempregados durante a crise. Maria do Socorro conhece bem essa dificuldade. “Estou fazendo umas faxinas por fora e vivendo de doações que os colegas da minha turma dão”, revela a doméstica, que procura um novo emprego há três meses.

A situação é aflitiva também para a vendedora ambulante de queijo e pamonha Jorlane de Jesus, 18, que aforam ser muito difícil sair da informalidade. Ela trabalha pelo menos 50 horas semanais para poder pagar as contas. Por isso, não tem tempo de procurar um emprego formal e estudar, como deseja. “É difícil demais. Vivemos preocupados se vamos conseguir vender tudo até o fim do dia”, contou

Especialistas dizem que o atual surto de coronavírus pode retardar ainda mais o ritmo de recuperação do emprego se, de fato, comprometer a retomada da economia brasileira, como já prevê o mercado financeiro. “Uma possível retraída econômica afeta muito o trabalho. Então, precisamos verificar como o mercado vai se comportar em fevereiro e março para poder ter um termômetro real sobre 2020”, acrescentou a professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), Débora Barem.

Diante da incerteza, é cada vez maior o número de trabalhadores que aceita se reposicionar por um salário menor do que o esperado. É por isso que, apesar da inflação, a Pnad mostrou uma estabilidade no rendimento médio do trabalhador brasileiro. O rendimento ficou em R$ 2.361, o mesmo valor registrado em janeiro do ano passado.

Também é por conta disso que cada vez mais brasileiros têm optado por se virar por conta própria. Segundo o IBGE, já são 24,6 milhões de pessoas nesta situação — 745 mil mais (alta de 3,1%) do que no mesmo período do ano passado. Os motoristas de aplicativo são um exemplo, mas o IBGE diz que também tem crescido o número de trabalhadores que têm CNPJ e trabalham como microempreendedores. A formalização dessa condição, por sinal, provocou até uma leve redução na massa de trabalhadores informais. Segundo o IBGE, essa taxa foi de 41% em janeiro do ano passado para 40,7% em janeiro deste ano. “A taxa, porém, ainda é muito alta. São 38,3 milhões de informais”, alertou Débora Barem.