Com as expectativas do mercado conduzidas pelo coronavírus, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou nesta quinta-feira (27/2) que vai rever, em abril, a projeção de crescimento da economia mundial neste ano. A previsão de alta do PIB da China, epicentro da epidemia, deve cair de 6% para 5,6%, afetando em cheio a economia global, e, sobretudo a de países emergentes como a do Brasil, que exporta bilhões de dólares em commodities para o mercado chinês e já está vendo as exportações diminuírem. O tamanho da revisão, contudo, ainda está definido, uma vez que ninguém tem noção exata do prejuízo que o coronavírus trará para a economia mundial. Por isso, o clima no mercado é o da incerteza e de aversão ao risco.
“O mercado está cauteloso por conta da incerteza sobre como isso vai se alastrar ao redor do mundo”, disse o analista de ações da Casa de Análise Independente Spiti, Gustavo Almeida, destacando que esse movimento acontece no mundo inteiro. Nesta quinta-feira (27/2), a Bolsa de Londres caiu 3,5%. Em Paris, a queda foi de 3,3%. E em Frankfurt, de 3,19%. Em Nova Iorque, o Dow Jones caiu mais 4,42%. O Nasdaq e o S&P também derreteram — as quedas foram de 4,61% e 4,42%, respectivamente. Com isso, Wall Street caminha para a pior semana desde a crise financeira de 2008.
Recessão
O risco de uma possível recessão global, causada pela epidemia, deixa mais distante o processo de recuperação da economia brasileira. O Bank of America Merrill Lynch, por exemplo, reduziu, nesta quinta-feira (27/2), para 1,9% a projeção de alta do PIB do Brasil em 2020. E o próprio secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, admitiu que o governo também deve precificar esse cenário de desaceleração em algum momento, revendo a previsão de avanço do PIB, hoje de 2,4%.
Com a marca de 102.984 pontos atingida nesta quinta-feira (27/2), o Ibovespa recuou ao patamar em que estava em outubro do ano passado, e está bem distante dos 115 mil pontos vistos no início deste ano “Aconteceu o chamado pull back, quando a Bolsa bate lá no fundo e tem uma recuperação, mas pode voltar a cair”, contou o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira.
No câmbio, a intervenção do BC — que fez um leilão extraordinário de mais 20 mil contratos de swap cambial, que equivalem à venda futura da moeda — foi insuficiente para barrar a elevação das cotações. Para o CEO da Bluebenx, Roberto Cardassi, o BC poderia ter tido mais sucesso se tivesse atuado de maneira mais incisiva antes desta semana de derretimento das bolsas mundiais. “Não adiantam atuações discretas. Para realmente baixar o dólar, é preciso uma oferta contundente. Mas o Banco Central não parece muito preocupado, e esse patamar alto atende a linha dele”, reforçou o economista da NGO Corretora, Sidnei Nehme. Para ele, o atual patamar do dólar preocupa. “Pode chegar o momento em que comece a impactar na inflação”, afirmou.
Nehme lembrou, ainda, que, como o futuro do coronavírus segue incerto, o movimento de alta do dólar e queda da Bolsa pode continuar. “A maior parte desse risco vem importada. Já o restante se refere às confusões internas do governo e à ausência de reformas”, reforçou Bandeira, indicando que o que pode mudar o rumo de queda do mercado brasileiro é a redução do temor global em relação ao coronavírus ou a sinalização de que o Congresso vai acelerar as reformas econômicas — o que parece ter ficado mais distante depois do mais recente atrito entre o presidente Jair Bolsonaro e o Legislativo.
* Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo