O rápido aumento da lista de países atingidos e de grupos afetados pelo coronavírus afundava os mercados de ações, nesta quinta-feira (27/2), varrendo a estabilização do dia anterior.
Tóquio deu o tom com uma queda de mais de 2% em face das crescentes ameaças à organização dos Jogos Olímpicos.
E os mercados europeus, já muito atingidos desde o início da semana, continuaram caindo. Por volta das 6h45 (horário de Brasília), Paris perdia 1,50%; Londres, 1,50%; e Frankfurt, 1,53%.
"Ontem, os mercados europeus tentaram se estabilizar", mas esta manhã a pressão voltou a subir, e "os pontos de vista da OMS (...) do Instituto Pasteur, na França, e das autoridades nacionais em geral são as informações relevantes", observou Tangi Le Liboux, estrategista da corretora Aurel BGC.
"Em termos absolutos, o número de infecções permanece baixo fora da China e o número de vítimas da epidemia de coronavírus é insignificante em comparação com qualquer gripe sazonal. Mas gripes comuns não implicam o fechamento de fábricas e a paralisação da atividade econômica. Se as fontes de infecção se multiplicarem no planeta, o custo econômico dessa provável pandemia deve disparar", acrescentou.
"O medo é que o coronavírus se torne uma ameaça em todo mundo e que as medidas de contenção desacelerem o crescimento global. As empresas europeias interromperam as viagens de negócios e reduziram suas previsões de resultados", aponta Ipek Ozkardeskaya, analista do Swissquote Bank.
Mesmo que o presidente americano, Donald Trump, tenha insistido, na quarta-feira à noite, em que uma ampla disseminação do novo coronavírus nos Estados Unidos não é inevitável, os investidores mantiveram em mente, especialmente esta manhã, a extensão inexorável do vírus pelo mundo inteiro.
Símbolo da preocupação, a Arábia Saudita suspendeu a entrada de peregrinos em Meca.
O novo coronavírus também chegou à América Latina, aterrissando no Brasil.
O Paquistão anunciou seus dois primeiros casos na quarta-feira e, na Europa, Itália, França, Áustria, Suíça, Noruega, Romênia, Croácia, Macedônia do Norte, Grécia e Dinamarca contabilizam casos.
Hoje, a COVID-19 afeta cerca de 40 nações, além da China, onde a epidemia parece ter atingido seu pico, mantendo uma tendência de queda no número de mortes diárias.
Diante dessa disseminação, ninguém duvida do impacto da epidemia no crescimento global, mesmo que ainda seja difícil avaliar esse quadro com precisão.
A disseminação mais recente "aumentou os temores de um impacto de longo prazo do vírus no comércio, nos portos, na cadeia de suprimentos e na confiança do consumidor", diz Michael Hewson, analista da CMC Markets.
A temporada de divulgação de resultados que está chegando ao fim foi uma oportunidade para as empresas começarem a incorporar o risco em suas previsões para o ano.
Muitas revisaram seus objetivos para baixo, ou mostraram cautela, ao estabelecer um vínculo inequívoco com o novo coronavírus, como o banco Standard Chartered, a cervejeira AB InBev, ou a Air France-KLM.
Nos índices, essas notícias voltaram a abalar os setores relacionados ao turismo.
"A ação da Easyjet perdeu 20% desde o fechamento da última quinta-feira, mas isso permanece relativo comparado aos 38% perdidos pela Norwegian Air", aponta Hewson.
Já os investimentos em títulos seguros estão a toda, começando com a dívida dos países mais fortes. A taxa de empréstimos de dez anos da Alemanha caiu acentuadamente, assim como a dos Estados Unidos, que registrou um novo mínimo histórico de 1,2872%.
Como apontou Jasper Lawler, analista do London Capital Group, "existem poucos lugares para se esconder com um coronavírus que é o centro das atenções nos mercados".