Economia

Temor com coronavírus, crise política e Vale empurram Ibovespa para baixo

O Ibovespa abriu em queda nesta sexta-feira, 21, diante de renovadas preocupações com os efeitos do surto de coronavírus sobre a economia mundial. Na quinta, já fechara em baixa, de 1,66%, aos 114.586,24 pontos. O número de casos do vírus está avançando para além da China e nem mesmo indicadores de atividades considerados favoráveis no país asiático e na Europa impediram as perdas na maioria das bolsas da região. O clima negativo também atinge os mercados acionários europeus e os índices futuros de Nova York. Hoje, a Itália confirmou três novos casos de coronavírus no país. De olho principalmente nas ações Vale, o Ibovespa perdeu os 112 mil pontos, prejudicado por toda a carteira, mas sobretudo pelas ações da mineradora, que caem em torno de 3%, puxando os papéis de outras empresas do segmento e de siderurgia. No pré-mercado de Nova York, os ADRs da companhia também têm queda da mesma magnitude. Já o dólar desacelera a alta, em meio a realização de lucros, conforme operadores, a R$ 4,3970. Em teleconferência, o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, disse a companhia não busca novas aquisições e que seguirá disciplinada em sua alocação de capital. Conforme ele, a mineradora trabalha para retomar o pagamento de dividendos e que comunicará o mercado assim que houver notícias sobre o assunto. Conforme ele, o foco da empresa passa pela segurança dos processos e das pessoas e a reparação dos danos relacionados à tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, que completou um ano. Já o diretor executivo de Minerais Ferrosos e Carvão da empresa, Marcello Spinelli, disse que a mina de Brucutu deve voltar a produzir plenamente no segundo semestre deste ano, enquanto o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da companhia, Luciano Siani Pires, afirmou que a provisão adicional de R$ 4 bilhões a R$ 8 bilhões será reconhecida se ações civis públicas forem suspensas. De acordo com ele, quando dividendos forem retomados será na mesma política anterior, e que é preciso retomar operações para reduzir nível de custos. Nem mesmo a proximidade da folia carnavalesca anima os investidores, o que pode impossibilitar o Ibovespa de encerrar a semana no campo positivo, já que a B3 ficará fechada a partir de segunda-feira, só reabrindo às 13 horas da quarta-feira de Cinzas. A Vale saiu de lucro para prejuízo de US$ 1,683 bilhão em 2019, sofrendo os impactos do rompimento de barragem em Brumadinho (MG), em janeiro do ano passado. Além disso, pesa sobre as ações a notícia sobre uma investigação independente de que a mineradora sabia de problemas em Brumadinho desde 2003. Já as ações de Lojas Americanas sobem (3,13%), compondo a lista de apenas quatro elevações na Bolsa, de um total de 73 papéis, depois do balanço considerado bom por analistas no quarto trimestre. A empresa registrou líquido consolidado ajustado de R$ 398 milhões no quarto trimestre de 2019, o que representa crescimento de 62,1% ante o registrado no mesmo período do ano anterior. Além do foco no corporativo, os ruídos políticos, que colocam em risco o avanço da agenda reformista, geram ainda mais inquietude em meio ao quadro já de incerteza em relação à dinâmica da atividade doméstica. Diante do quadro de insatisfação com a demora em apresentar resultados, o presidente Jair Bolsonaro teria cobrado do ministro da Economia, Paulo Guedes, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2% em 2020. No mercado, no entanto, as expectativas seguem sendo reduzidas, em razão dos temores relacionados aos impactos do coronavírus sobre a economia global e, claro, brasileira, do atraso nas reformas e na possibilidade de resultados fracos das empresas no primeiro trimestre. Já há instituições esperando alta de 1,4% do PIB em 2020. "A grande preocupação é qual será o impacto nas economias globais e nas empresas", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença DTVM, questionando que, "será que outras empresas também seguirão a Apple?", pergunta. Esta semana a fabricante de tecnologia alertou que sua receita pode ser afetada por causa de problemas na produção em decorrência do surto de coronavírus. Na China, as vendas de carros no varejo cederam 92% nos primeiros 16 dias de fevereiro, em razão da epidemia. O debate para reformas - o da administrativa já ficou para depois do carnaval - pode ficar ainda mais comprometido, diante de ameaças ao ajuste fiscal, depois que o governo de Minas Gerais concedeu aumento de 41% para forças de seguranças. A medida estimulou polícias militares a também exigirem o mesmo em plena folia carnavalesca, e em várias cidades a categoria está de braços cruzados, quando há ainda mais necessidade do contingente de seguranças nas ruas.