Na média, os analistas preveem alta de 0,30% para o PIB brasileiro entre janeiro e março, mas, para que esse quadro se concretize, a China precisa religar as máquinas até o fim de fevereiro. Se a segunda economia do planeta continuar parada em março, a atividade global vai despencar e o Brasil será um dos maiores prejudicados, devido à forte relação comercial com o país asiático.
No Brasil, vários setores, sobretudo o de eletroeletrônicos, já estão sofrendo com a escassez de peças e componentes vindos da China. Para se ter uma ideia de como isso é real, uma empresa sediada no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) do Distrito Federal está há dias com os elevadores parados por falta de peças.
Cada ponto percentual a menos de crescimento da China retira 0,5 ponto do PIB brasileiro. As estimativas são de que o país asiático avance entre 4% e 4,5% em 2020, ante os 6,5%, em média, dos últimos anos. O mais preocupante é que, não há no mundo, hoje, países capazes de substituírem a China no mercado de suprimentos industriais.
A China, contudo, é apenas um dos problemas que se colocam no caminho do Brasil. Desde novembro do ano passado, o país enfrenta uma contínua desaceleração da atividade. Janeiro, mostram prévias dos indicadores, foi fraco. Fevereiro não está sendo diferente. E não há perspectiva de forte recuperação em março.
O governo comemorou a prévia da inflação de fevereiro, que ficou em 0,22%, a menor para o mês desde 1994. Mas isso aconteceu, sobretudo, porque o consumo está fraco. As famílias reduziram as compras. Resta ao varejo fazer promoções e cortar preços para desovar os estoques.
Outro dado relevante: o Banco Central liberou R$ 135 bilhões de compulsórios para tentar estimular a economia via crédito. Isso depois de ter reduzido a taxa básica de juros (Selic) ao menor nível da história, 4,25% ao ano. O BC acredita que esse dinheiro ficará “queimando nas mãos dos bancos”, que serão obrigados a reduzir os custos dos empréstimos para repassar os recursos adiante.
De uma coisa os especialistas estão certos: mesmo que o PIB do primeiro trimestre seja ligeiramente positivo, o crescimento do ano como um todo está comprometido, ficando por volta de 1,5%. Além do estrago do coronavírus, o Brasil se ressentirá das dificuldades do governo em aprovar projetos prioritários, como as reformas administrativas e tributárias, no Congresso.
Quanto mais demorar para as reformas saírem, maior será a desconfiança de investidores e empresários. Os estrangeiros não entram no Brasil e os que estão no país estão sacando os recursos. Essa, por sinal, é uma das razões de o dólar ter batido novo recorde, nesta quinta-feira (20/2).