O Brasil vai mudar a matriz energética até 2029, com redução na geração hidráulica, de 58% para 42% do total produzido, e aumento significativo das fontes eólica, que praticamente vai dobrar, e solar, com participação quatro vezes maior. As usinas térmicas a gás natural vão de 7% para 14%, fazendo a parcela de fontes renováveis cair dos atuais 83% para 80% em 10 anos. As estimativas constam do Plano Decenal de Expansão de Energia 2019-2029, divulgado ontem pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O programa projeta o aumento da demanda no país e a necessidade de investimentos para atender tal crescimento. Segundo o estudo, o setor precisará de R$ 2,34 trilhões até 2029.
Do total, R$ 1,9 trilhão deve ser aportado nos segmentos de petróleo, gás natural e biocombustíveis e R$ 456 bilhões em geração centralizada ou distribuída de energia elétrica e em linhas de transmissão. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, explicou que o plano é referência por “proporcionar a segurança energética que o país precisa para o desenvolvimento econômico”. “O mundo passa por uma transição energética, por isso temos que ter cuidado no planejamento”, destacou.
Para fazer as projeções, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, Reive Barros, afirmou que o PDE parte de avaliações socioeconômicas e de demanda por energia. “As premissas consideradas dão conta de que a população do país vai crescer a uma taxa média de 0,6% ao ano, chegando a 224,3 milhões de habitantes em 2029. O cenário referência da pesquisa considera um crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,9% por ano e expansão de 2,2% do PIB per capita ao ano até 2029”, explicou.
Com os investimentos estimados, o setor de petróleo e gás do país chegará em 2029 com uma produção de 5,5 milhões de barris por dia, o dobro do registrado em 2018. “O pré-sal será responsável por 77% da produção nacional. O PDE estima o crescimento do setor em 7,2% ao ano, o que nos permite projetar que o Brasil vai sair sexta para quarta posição entre os maiores produtores mundiais de petróleo”, disse o secretário.
Eletricidade
Barros ressaltou que qualquer melhoria da atividade econômica pode resultar num crescimento rápido de demanda por energia. “A indústria tem 30% de ociosidade e pode ocupar sua capacidade rapidamente. Por isso, o setor tem de se antecipar a esse crescimento para garantir capacidade instalada de energia”, assinalou. O setor de energia elétrica deve receber R$ 456 bilhões em investimentos, sendo R$ 303 bilhões em geração centralizada, R$ 50 bilhões em geração distribuída e R$ 104 bilhões em transmissão.
Com isso, a capacidade instalada do país, atualmente em 176 GigaWatts (GW), terá acréscimo de 75 GW até 2029, atingindo 251 GW. A geração distribuída deve saltar do atual 1,3 GW para 11,4 GW, expansão de 43%. Em transmissão, as redes passarão de 154,4 mil quilômetros (km) para 203,4 mil km, expansão de 32%.
Sobre as projeções, Reive Barros destacou que algumas variáveis tornam o planejamento desafiador. “Teremos veículos elétricos, forma de armazenamento e crescimento de geração distribuída. Ainda não existe um modelo que possa capturar informações sobre essas novas formas de tecnologia”, reconheceu.
Apesar da evolução da matriz energética, o Brasil não ficará com geração mais limpa. Atualmente, o parque é composto por 83% de fontes renováveis e a previsão é de recuar para 80% em 2029. Segundo Thiago Barral, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), não é possível atribuir a redução a uma fonte, como o aumento de participação do gás natural. “É uma combinação de fatores, há aumento expressivo de solar e eólica. E teremos térmicas a óleo saindo do sistema, substituídas por gás”, justificou.
De acordo com o PDE, o mercado consumidor de gás natural tem expectativa de crescimento médio anual de 1,4% ao ano para a demanda não termelétrica e de 6,5% para geração de eletricidade, entre 2019 e 2029. Conforme Reive Barros, o novo mercado do gás vai aumentar a oferta do produto. “Vamos sair de crescimento potencial da malha, estimado em 166 milhões m³/dia em 2029, para 180 milhões de m³/dia ao considerar as mudanças do novo mercado”, disse. O secretário afirmou, ainda, que o etanol continua crescendo. “Cada vez mais vai substituir a gasolina, assim como biocombustível aumentará a participação no diesel”, acrescentou. Sobre geração nuclear, o plano do governo prevê a entrada em operação da usina Angra 3 em 2026.
"Teremos veículos elétricos, forma de armazenamento e crescimento
de geração distribuída. Ainda não existe um modelo que possa
capturar informações sobre essas novas formas de tecnologia”
capturar informações sobre essas novas formas de tecnologia”
Reive Barros,
secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME