Correio Braziliense
postado em 12/02/2020 06:00
O Brasil vai mudar a matriz energética até 2029, com redução na geração hidráulica, de 58% para 42% do total produzido, e aumento significativo das fontes eólica, que praticamente vai dobrar, e solar, com participação quatro vezes maior. As usinas térmicas a gás natural vão de 7% para 14%, fazendo a parcela de fontes renováveis cair dos atuais 83% para 80% em 10 anos. As estimativas constam do Plano Decenal de Expansão de Energia 2019-2029, divulgado nests terça-feira (11/2) pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O programa projeta o aumento da demanda no país e a necessidade de investimentos para atender tal crescimento. Segundo o estudo, o setor precisará de R$ 2,34 trilhões até 2029.
Do total, R$ 1,9 trilhão deve ser aportado nos segmentos de petróleo, gás natural e biocombustíveis e R$ 456 bilhões em geração centralizada ou distribuída de energia elétrica e em linhas de transmissão. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, explicou que o plano é referência por “proporcionar a segurança energética que o país precisa para o desenvolvimento econômico”. “O mundo passa por uma transição energética, por isso temos que ter cuidado no planejamento”, destacou.
Para fazer as projeções, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, Reive Barros, afirmou que o PDE parte de avaliações socioeconômicas e de demanda por energia. “As premissas consideradas dão conta de que a população do país vai crescer a uma taxa média de 0,6% ao ano, chegando a 224,3 milhões de habitantes em 2029. O cenário referência da pesquisa considera um crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,9% por ano e expansão de 2,2% do PIB per capita ao ano até 2029”, explicou.
Com os investimentos estimados, o setor de petróleo e gás do país chegará em 2029 com uma produção de 5,5 milhões de barris por dia, o dobro do registrado em 2018. “O pré-sal será responsável por 77% da produção nacional. O PDE estima o crescimento do setor em 7,2% ao ano, o que nos permite projetar que o Brasil vai sair sexta para quarta posição entre os maiores produtores mundiais de petróleo”, disse o secretário.
Eletricidade
Barros ressaltou que qualquer melhoria da atividade econômica pode resultar num crescimento rápido de demanda por energia. “A indústria tem 30% de ociosidade e pode ocupar sua capacidade rapidamente. Por isso, o setor tem de se antecipar a esse crescimento para garantir capacidade instalada de energia”, assinalou. O setor de energia elétrica deve receber R$ 456 bilhões em investimentos, sendo R$ 303 bilhões em geração centralizada, R$ 50 bilhões em geração distribuída e R$ 104 bilhões em transmissão.
Com isso, a capacidade instalada do país, atualmente em 176 GigaWatts (GW), terá acréscimo de 75 GW até 2029, atingindo 251 GW. A geração distribuída deve saltar do atual 1,3 GW para 11,4 GW, expansão de 43%. Em transmissão, as redes passarão de 154,4 mil quilômetros (km) para 203,4 mil km, expansão de 32%.
Sobre as projeções, Reive Barros destacou que algumas variáveis tornam o planejamento desafiador. “Teremos veículos elétricos, forma de armazenamento e crescimento de geração distribuída. Ainda não existe um modelo que possa capturar informações sobre essas novas formas de tecnologia”, reconheceu.
Apesar da evolução da matriz energética, o Brasil não ficará com geração mais limpa. Atualmente, o parque é composto por 83% de fontes renováveis e a previsão é de recuar para 80% em 2029. Segundo Thiago Barral, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), não é possível atribuir a redução a uma fonte, como o aumento de participação do gás natural. “É uma combinação de fatores, há aumento expressivo de solar e eólica. E teremos térmicas a óleo saindo do sistema, substituídas por gás”, justificou.
De acordo com o PDE, o mercado consumidor de gás natural tem expectativa de crescimento médio anual de 1,4% ao ano para a demanda não termelétrica e de 6,5% para geração de eletricidade, entre 2019 e 2029. Conforme Reive Barros, o novo mercado do gás vai aumentar a oferta do produto. “Vamos sair de crescimento potencial da malha, estimado em 166 milhões m³/dia em 2029, para 180 milhões de m³/dia ao considerar as mudanças do novo mercado”, disse. O secretário afirmou, ainda, que o etanol continua crescendo. “Cada vez mais vai substituir a gasolina, assim como biocombustível aumentará a participação no diesel”, acrescentou. Sobre geração nuclear, o plano do governo prevê a entrada em operação da usina Angra 3 em 2026.
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