Economia

Taxas curtas caem com IPCA e longas sobem com aversão ao risco no exterior

O IPCA de janeiro (0,21%) muito abaixo do piso das estimativas de mercado coletadas pelo Projeções Broadcast (0,31%) continuou ditando à tarde o ritmo na ponta curta dos juros futuros, que fecharam em baixa, enquanto os vencimentos de longo prazo subiram, alinhados ao aumento da aversão ao risco no exterior. Os vértices intermediários terminaram com taxas de lado. A surpresa com a inflação no primeiro mês do ano provocou uma onda de revisões baixistas para a inflação de 2020, dois dias depois de os diretores do Copom afirmarem ver como "adequada" a interrupção do ciclo de afrouxamento monetário. O consenso permanece sendo o de que o Copom não deve reduzir a Selic tão cedo, mas, por outro lado, deve demorar mais para iniciar um ciclo de altas. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 caiu de 4,331% para 4,275% (regular e estendida), nova mínima histórica, e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 5,56% (regular e estendida), de 5,542%. O DI para janeiro de 2025 subiu de 6,142% para 6,20% (regular e estendida) e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,55% (regular e estendida), de 6,471%. A sessão foi mais uma vez marcada por forte volume de contratos, em função dos ajustes de posição em função do IPCA. A desaceleração do índice de 1,15% em dezembro para 0,21% em janeiro - taxa mais baixa para o mês desde o início do Plano Real - foi puxada pela deflação (-4,03%) nos preços das carnes. Segundo apurou o Projeções Broadcast, para analistas, a percepção é de que a inflação do primeiro trimestre deve fechar em um novo mínimo histórico em 2020. Pesquisa relâmpago realizada após o índice mostra mediana das estimativas em 0,5%, quando normalmente, pelas pressões sazonais de in natura e educação, essa taxa costuma ser próxima de 1%. O cenário favorável também levou a novas revisões baixistas para o IPCA do ano, que agora tem mediana de 3,30% - no Boletim Focus, o consenso é de 3,40%, bem abaixo do centro da meta de 4,0%. Apesar disso, diante do sinal muito claro do Copom de que não deve reduzir a Selic no curto prazo, o IPCA não alterou a percepção do mercado de que a taxa básica deve permanecer em 4,25% este ano. Tal aposta também é dominante na curva a termo, embora, ao contrário de ontem, hoje já mostre chance residual (12%) de queda de 0,25 ponto porcentual no próximo Copom. Se o mercado vê como quase nula a possibilidade de corte da Selic em março, por outro lado, o cenário de inflação permite imaginar que o movimento de "normalização" da taxa pode demorar mais a ocorrer. Matheus Gallina, trader da Quantitas Asset, afirma que a as apostas de postergação do início do processo de aperto para depois de 2020 retirou prêmios da curva pela magnitude de arrefecimento do IPCA. "O mercado tem diluído a probabilidade de alta ao longo dos vencimentos", disse.