Essa nova realidade é uma preocupação para o investidor acostumado em aplicar no mercado de renda fixa e na caderneta de poupança, porque passou a perder dinheiro, avisam analistas ouvidos pelo Correio. Desde 2012, os depósitos na poupança rendem 70% da taxa básica sempre que ela fica abaixo de 8,5% ao ano. Logo, o rendimento passou para 2,98% ao ano enquanto a poupança antiga, válida apenas para depósitos feitos até 3 de maio de 2012, rende 6,17%.
“A poupança não é mais um investimento viável, porque perde para a inflação. Quem está deixando dinheiro na caderneta não está conseguindo manter o poder de compra. É preciso correr mais risco para ter um retorno maior, que é o caso de renda variável, como a Bolsa”, comentou a economista Juliana Inhasz, coordenadora da graduação em economia no Insper. “O novo cenário de juro baixo levou o investidor a diversificar as aplicações. O número de investidores na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo) passou de 800 mil para 1,6 milhão no ano passado”, destacou o economista Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Em contrapartida, em janeiro, as retiradas líquidas de recursos da poupança bateram novo recorde, alcançando R$ 12,3 bilhões, conforme dados divulgados nesta quinta-feira (6/2) pelo Banco Central. No fim do mês passado, o saldo total da poupança ficou em R$ 835,6 bilhões.
O diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, lembrou que janeiro é um mês em que o volume de retiradas da poupança é elevado, porque os depositantes costumam sacar para quitar dívidas de começo do ano. Contudo, ele reconheceu que o baixo rendimento da aplicação contribuiu para o volume recorde de retiradas.
Oliveira adverte que, se as saídas persistirem, o financiamento da construção civil, que depende desses recursos, pode diminuir. O setor é um dos que mais contribuem para o crescimento da economia. “O rendimento da poupança precisará ser revisto pelo governo, pois pode prejudicar a recuperação da atividade econômica”, explicou.
Na avaliação da economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, porém, esse risco não existe, porque “existem outros instrumentos no mercado” para ofertar crédito e financiamentos para o setor imobiliário. Para Juliana, do Insper, e Balassiano, do Ibre, a ameaça de desaceleração não pode ser ignorada, especialmente, em um ano com eleições municipais no Brasil e presidenciais nos Estados Unidos e uma série de incertezas no mercado externo, como o novo coronavírus.
A professora lembrou que, como a taxa de juros está muito baixa, “ela não é sustentável por muito tempo”, ainda mais porque a economia está demorando mais do que o normal para reagir ao afrouxamento da política monetária. “Mesmo com os juros baixos, a economia parece estar com o freio de mão puxado. Se continuar nesse ritmo, uma hora o motor vai fundir”, alertou. Em meio às incertezas do mercado externo, a recuperação global mais lenta pode impir um teto de 2% ao avanço da economia brasileira, segundo Juliana.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, observa que o cenário de taxas tão baixas é inédito no Brasil, e os efeitos disso ainda não estão sendo percebidos. “O efeito maior é no financiamento de longo prazo, tanto pessoa física quanto jurídica. Fica mais barato investir e consumir. Bens de prazos longos, como imóveis, sentem mais positivamente o impacto”, afirmou.
Dívida menor
O novo patamar da Selic é mais positivo para o governo do que para o pequeno investidor, porque a União está conseguindo reduzir sem muito esforço os juros da dívida pública. O corte de 0,25 ponto percentual na Selic proporciona economia, neste ano, de R$ 6,5 bilhões apenas nos títulos do Tesouro Nacional indexados à Selic e nas operações compromissadas do Banco Central. No ano passado, a economia média ficou em torno de R$ 51 bilhões, conforme cálculo de um técnico do governo, feito a pedido do Correio. De acordo com dados do Ministério da Economia, o potencial de redução da conta anual de juros com a Selic menor é de R$ 104,5 bilhões entre 2019 e 2022.
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