Correio Braziliense
postado em 07/02/2020 06:00
São Paulo – O Grupo SBF, detentor da marca de varejo esportivo Centauro, anunciou nesta quinta-feira (6/2) um acordo para assumir a operação da Nike no Brasil. Com a parceria, a varejista se torna a distribuidora exclusiva dos produtos da marca americana, incluindo roupas, calçados, acessórios e equipamentos esportivos, e operadora exclusiva das lojas físicas e do comércio eletrônico da Nike, tendo direito a abrir novas lojas.
Pelo acordo, válido por dez anos, o SBF pagará R$ 900 milhões pelo capital social da Nike no Brasil. Na prática, isso inclui o capital de giro e o estoque, além de ativos fiscais — que não foram especificados. O acordo firmado não inclui direitos de propriedade intelectual. Patrocínios esportivos não devem ser afetados.
A Centauro tem cerca de 200 lojas em 20 estados, além do e-commerce. A Nike não divulga dados financeiros sobre a operação brasileira. No comunicado enviado aos investidores, o Grupo SBF informou que a Nike faturou R$ 2 bilhões no exercício encerrado em 31 de maio de 2019.
Segundo relatório da Eleven Financial, a Nike tem 10% de participação de mercado e é a segunda marca em volumes de venda no setor, atrás da Olympikus. Em termos de receita, ocupa a primeira posição — por ter ticket médio mais alto do que a principal concorrente. Já o Bradesco credita à Nike 21% de participação nas vendas de artigos esportivos, que chegam a R$ 25 bilhões, e os negócios da marca na Centauro correspondem a 15% das receitas no Brasil.
Parte da operação será financiada pelo Grupo SBF, que não informou o montante exato. A empresa contratou o Banco Santander, o Itaú BBA e o Bradesco BBI para “auxiliá-la na estruturação e implementação do financiamento” para o pagamento do restante.
“Estamos muito entusiasmados”, disse o CEO do SBF, Pedro Zemel. “Seguimos comprometidos com a missão de aprimorar o ecossistema do esporte através de diferentes caminhos e modelos de negócios.”
Para ser confirmada, a compra depende de aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão público que tem, entre suas funções, evitar que a concentração de mercado seja prejudicial ao consumidor. Segundo comunicado do SBF, o grupo atuará como uma “holding e plataforma esportiva”. A promessa é de que a Centauro e a Nike do Brasil serão tratadas como unidades de negócios separadas e suas operações gerenciadas de forma independente.
Impacto na Bolsa
Os investidores reagiram bem à compra da Nike pela Centauro. Com a operação, as ações da varejista brasileira negociadas na B3, a bolsa de valores brasileira, subiram 14,21%, a R$ 49,50.
Em relatório, a Eleven afirmou ter considerado a operação positiva para empresa. “A exclusividade dos produtos Nike passa a ser um diferencial para a companhia e fortalece o seu importante posicionamento no setor, além de abrir outras oportunidades de negócios para fomentar a experiência em loja na qual a Centauro já vem mostrando importantes evoluções”, escreveram, no relatório, os analistas Giovana Scottini e Eric Huang. “Este acordo reforça nossa visão sobre o posicionamento da Centauro como consolidadora no segmento de artigos esportivos.”
Já as ações do Magazine Luiza, dono do Netshoes, principal concorrente da Centauro, fecharam em baixa de 2,53%, negociadas a R$ 55,85. Pedro Fagundes, analista da XP, disse que o acordo é ruim para o Magazine Luiza. “O acordo, caso seja aprovado, gera um conflito de interesses, dado que a operação da Nike será gerida pelo principal concorrente do Netshoes.”
Segundo Fagundes, a Nike é um dos principais fornecedores do Netshoes que, por sua vez, representa 10% da receita do Magazine Luiza. “Estima-se que 15% das vendas do Netshoes venham de produtos da Nike.” Mas Fagundes considerou o acordo “dos males o menor”. “Seria péssimo se houvesse exclusividade nas vendas no varejo, que não é o caso”, disse. O que fica, segundo ele, é uma incerteza a respeito de como será, na prática, o acordo entre as duas marcas – e se isso vai afetar de alguma forma as concorrentes. Há algum tempo a Nike tem acordo com a Centauro para o lançamento de produtos exclusivos.
Já o Bradesco não vê impactos significativos ao Magazine Luiza. “Entendemos que a Nike não deseja reduzir os canais de distribuição no Brasil. O Netshoes vai continuar sendo um parceiro importante para a marca.”
A compra da Nike é mais um capítulo no crescimento da Centauro. Em abril do ano passado, a empresa abriu seu capital na B3, a bolsa de valores brasileira, e captou R$ 772,2 milhões. Na ocasião, a Centauro informou que os recursos reforçariam o caixa da empresa e seriam usados para modernizar as lojas físicas, ampliar os investimentos na plataforma digital e reforçar o capital de giro.
De lá para cá, suas ações valorizaram quase 300%. O faturamento no terceiro trimestre do ano passado foi de R$ 621 milhões – alta de quase 10% na comparação com o trimestre anterior. No período, a empresa viu o lucro líquido subir 22%, para R$ 47 milhões.
Pelas estimativas da Eleven, a Centauro fechou 2019 com receita líquida de R$ 2,55 bilhões e lucro líquido ajustado de R$ 159 milhões, alta de 12,3% e 6,7%, respectivamente. Os resultados oficiais serão apresentados pela empresa no dia 30 de março.
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