O dólar fechou janeiro em nova máxima histórica, cotado em R$ 4,283, refletindo a preocupação dos investidores com os efeitos da rápida disseminação do coronavírus na economia mundial. No pregão de ontem, a moeda norte-americana subiu 0,59%, acumulou a maior alta para um mês de janeiro desde 2010 e registrou recorde mensal desde agosto de 2019, com valorização de 6,81% frente ao real no ano. Na quinta semana consecutiva de alta, a divisa avançou 2,39% diante do real, mesmo com o Banco Central (BC) despejando US$ 3 bilhões no mercado para conter a volatilidade.
A autoridade monetária fez um leilão de linha, que corresponde à venda de dólar à vista com compromisso de recompra, para rolar contratos que venciam ontem, e deve fazer novas intervenções. Ainda assim, o real foi uma das moedas com pior desempenho ante o dólar em janeiro, bem perto da África do Sul, onde a divisa dos Estados Unidos acumula aumento de 6,9%.
Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o BC interfere no mercado para estabilizar o câmbio e impedir alta volatilidade. “Não tem um teto para a cotação. Essa alta é relacionada ao quadro internacional de risco pelo coronavírus e a uma nova queda da Selic (taxa básica de juros)”, avaliou. Segundo ele, o mercado aposta em mais uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica semana que vem, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne pela primeira vez no ano. “A redução dos juros deprecia o real, porque tira atratividade dos ativos do país. O investidor não quer entrar para ganhar pouco e ainda correr risco cambial”, ressaltou.
Flutuação
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, explicou que o sistema de câmbio é flutuante. “Sistema flutuante não significa que o BC não pode intervir. Moeda estrangeira faz parte da política monetária. A autoridade deixa ajustar até não precisar intervir. Neste momento, vale a intervenção, porque há um risco direto da taxa de câmbio”, assinalou.
De acordo com o especialista, o BC entra para amenizar e mitigar os efeitos da volatilidade na economia. “Mas o mercado gosta da queda de braços e vai tentando forçar. Isso faz parte do jogo, para chegar num câmbio de equilíbrio”, observou. A estratégia do mercado é momentânea, porque os investidores podem estar posicionados em câmbio ou na hora de realizarem lucro. “Por isso, forçam a subida do dólar”, explicou.
Na análise da equipe de estratégia do Morgan Stanley, contudo, a autoridade monetária está dando sinais de que está confortável com o dólar nos níveis atuais, apesar do leilão, e não deve atuar de forma mais contundente no mercado. (SK)
R$ 4,283
Cotação de fechamento da divisa, ontem