Apesar de ameaçar o crescimento da economia mundial e brasileira, a epidemia do coronavírus acabou produzindo um efeito favorável no bolso dos consumidores. Em janeiro, os preços da carne, que vinham subindo de forma expressiva devido ao aumento das exportações para a China, desaceleraram tanto no atacado quanto no varejo. Com isso, o Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 0,48% neste mês, bem menos do que os 2,09% registrados em dezembro. Mesmo assim, no acumulado de 12 meses, o IGP-M acumula alta de 7,81%, em comparação aos 7,30% da divulgação anterior.
O economista André Braz, responsável pelo índice, observou que as cotações das principais commodities estão em queda por causa do temor com a epidemia do coronavírus, que tende a conter a atividade econômica global e, consequentemente, diminuir a demanda por esses produtos. Segundo ele, o alívio nos preços da carne tende a continuar em fevereiro, o que, em conjunto com os valores contidos das demais commodities, pode possibilitar uma deflação no IGP-M no mês que vem.
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), um dos três indicadores que compõem o IGP-M, passou de 2,84% no último mês de 2019 para 0,50% na primeira leitura deste ano, captando queda no valor das proteínas, tanto no campo quanto do alimento industrializado. As cotações dos bovinos, antes do abate, passaram de alta de 19,57% em dezembro para queda de 5,83% em janeiro, enquanto as aves saíram de elevação de 2% para deflação de 0,61%. Já os suínos subiram com menos ímpeto: 3,19% em janeiro, ante 9,30% em dezembro último.
De acordo com a FGV, o alívio no atacado se refletiu no orçamento das famílias. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), outro componente do IGP-M, também desacelerou. Em dezembro, o indicador havia subido 0,84%; neste mês, a elevação ficou em 0,52%. O principal motivo foi o alívio nos preços da carne bovina, que haviam aumentado 18,3% no mês anterior e mostraram elevação de 1,95% na pesquisa de janeiro. “Ainda há espaço para continuar desacelerando. Já tínhamos a percepção de que o choque da carne seria grande, mas temporário. Entretanto, achávamos que o alívio só viria em fevereiro, e ele começou a se manifestar ainda em janeiro”, disse Braz.
O Índice Nacional de Custos da Construção — Mercado (INCC-M), o terceiro componente do IGP-M, porém, mostrou aceleração. A alta do indicador passou de 0,14% para 0,26%, atingindo variação de 3,99% no acumulado de março de 2019 a janeiro de 2020.
"Já tínhamos a percepção de que o choque da carne seria grande, mas temporário. Entretanto, achávamos que o alívio só viria em fevereiro, e ele começou a se manifestar ainda em janeiro”
André Braz, economista da FGV
Petrobras reduz preço da gasolina
A Petrobras informou que, por conta da queda do preço do petróleo no mercado internacional, vai reduzir o preço da gasolina e do diesel (S10 e S500) em 3%, assim como o diesel marítimo, em 3,1%, a partir de hoje, nas refinarias. Os outros produtos não serão alterados, segundo a estatal. De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustível (Abicom), a redução média será de R$ 0,0552 na gasolina e de R$ 0,0655 no diesel. “A redução dos preços já era esperada, devido à queda das cotações no mercado internacional”, disse o presidente da Abicom, Sérgio Araújo.