Em 2019, o Brasil criou 644.079 novas vagas de trabalho, alta de 21,63%, ou 115 mil postos a mais, em relação a 2018. Esse é o maior saldo de emprego com carteira assinada desde 2013, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. A qualidade de boa parte dos cargos, no entanto, continuou baixa. Cerca de 30% (34,5 mil) das 115 mil novas contratações foram para trabalho intermitente, no qual o funcionário fica à disposição do patrão, tem menor remuneração e nem sempre é chamado.
O secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, admitiu que o sistema — criado pela reforma trabalhista de 2017 e dirigido à mão de obra menos especializada — foi mais usado no ano passado pelos empresários. Mas afirmou que a tendência é de que essa modalidade comece a recuar. “Não esperamos que o trabalho intermitente seja dominante, assim como não é em nenhum lugar do mundo. É importante destacar que o objetivo não é substituir outras formas de contratação”, disse Dalcolmo.
O engenheiro de redes de comunicação João Paulo Botelho, 24 anos, foi contratado em dezembro como analista de suporte ao produto. Recém-formado, ele encontrou a oportunidade por meio de um grupo de estudantes de engenharia em redes no Whatsapp. “Foi minha primeira entrevista de emprego. Obviamente fiquei tenso antes de entrar na sala, mas logo fui ganhando confiança”, conta. O atual cenário do país foi importante para a rapidez na colocação, segundo ele. “E me formei com receio, pensando na dificuldade de me encaixar no mercado, principalmente em Brasília, onde o setor público domina. Esse emprego me deu mais confiança”, afirmou.
Para analistas, o mercado de trabalho ainda pode melhorar em 2020. “Esperamos a criação de 900 mil postos”, afirmou Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. Número que se se concretizará, segundo ele, caso o Congresso aprove o Plano Mais Brasil, que engloba as PECs (propostas de emenda à Constituição) Emergencial, dos Fundos Públicos e do Pacto Federativo, que devem ser seguidas pelas reformas tributária e administrativa. “O mais importante é que o governo prove que está ajustando as contas públicas e criando um ambiente favorável aos negócios”, destacou Beyruti.
Para Pedro Galdi, economista-chefe da Mirae Corretora, o crescimento econômico continua lento, mas constante. “Vários indicadores demonstram que a confiança cresceu”, disse. A recuperação firme do emprego, porém, ainda vai demorar. “Vamos precisar, talvez, de mais de quatro anos para que o mercado absorva os atuais 12 milhões de desempregados”, afirmou.
Experiência
Formado em direito, Augusto Gabriel, morador de Brazlândia, 27, conseguiu em junho o primeiro emprego com carteira assinada, de assistente jurídico. Antes, era técnico de suporte na área de tecnologia da informação. “Passei sete meses procurando em vários locais. Consegui essa vaga porque um colega me indicou”, contou. “Foi muito importante para mim. Estive parado durante muito tempo, com projetos inacabados e finanças desorganizadas. Então, foi bom, tanto para ter mais experiência quanto para me ajudar financeiramente”, disse.
Bruno Dalcolmo lembrou que o país, em momentos de desenvolvimento, já gerou mais de dois milhões de empregos por ano. Por isso, acredita que, em 2020, “podem ser criadas até um milhão de vagas com carteira assinada, se as previsões entre 2,5% e 3% de crescimento do PIB se confirmarem.”
De acordo com o Caged, em 2019, todos os setores econômicos mostraram saldo positivo na criação de empregos, com destaque para o de serviços, responsável por mais 382,5 mil postos. Em seguida, vieram o comércio (145,4 mil) e a construção civil (71,1 mil). Os resultados também foram positivos em todas as regiões. Sudeste (318,2 mil) e Sul (143,2 mil) lideraram a abertura de vagas.
Os rendimentos tiveram aumento real. O salário médio de admissão foi de R$ 1.626,06, com alta real de 0,63%, e o salário médio de desligamento, de R$ 1.791,97, elevação de 0,7% em relação a 2018.
* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo
"Vários indicadores demonstram que a confiança cresceu. Porém, vamos precisar, talvez, de mais de quatro anos para que o mercado absorva os atuais 12 milhões de desempregados”
Pedro Galdi,economista-chefe da Mirae Corretora