Economia

Trump exige OMC mais 'justa'

Presidente dos EUA considera que organização habitualmente prejudica seu país nas decisões sobre disputas. E abre ofensiva contra Europa, nos mesmos moldes da que fez com a China, ameaçando sobretaxar veículos da UE

Davos O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ontem que representantes do seu governo iniciaram negociações para reformar a Organização Mundial do Comércio e questionou o tratamento “injusto” aos EUA dado pela instituição na resolução de disputas comerciais. A cobrança foi durante encontro com o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, em paralelo à reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.


Segundo Trump, Azevêdo planeja viajar aos EUA nas próximas semanas. “Eu tenho um problema com eles (a OMC) há algum tempo, porque nosso país não é tratado com justiça. Estamos discutindo uma estrutura totalmente nova. Temos que fazer alguma coisa”, disse Trump, ao lado de Azevedo, que concordou que a OMC precisa ser atualizada e passar por reformulações.


Ao mesmo tempo, os EUA recuaram na posição adotada domingo, depois do encontro entre Trump e o presidente francês, Emmanuel Macron, quando tinham decidido estender as discussões sobre o imposto sobre as gigantes digitais (as GAFA) até o fim do ano. Ontem, os representantes americanos relançaram sua ofensiva comercial contra a Europa, ameaçando sobretaxar os veículos fabricados no continente caso não abandonem seus planos de impostos digitais ou se não assinarem um acordo comercial com Washington.


A ideia de Trump é um acordo comercial com a União Europeia (UE), sobretudo depois que seu governo conseguiu garantir um acerto de fase 1 com a China.


“É muito, muito difícil lidar com a Europa. Eles vêm tirando vantagem do nosso país há anos. Se não conseguirmos algo, vou adotar medidas, e serão impostos muito altos para seus carros e outros produtos”, disse Trump em entrevista à CNBC.
Trump se encontrou com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Davos, na terça-feira, acredita que a tarefa de obter um acordo “será muito simples”. “Se não conseguirmos um acordo comercial (com a UE), teremos de aplicar um imposto de 25% sobre seus carros”, afirmou, em outra entrevista, esta para Fox News.

No ataque
As ameaças vêm dias depois de os EUA assinarem um acordo preliminar com os chineses, congelando dois anos de guerra comercial entre as duas potências econômicas. “Eu queria esperar até terminarmos com a China. Não queria lidar com a China e a Europa ao mesmo tempo. Agora a China está pronta”, explicou Trump à CNBC.


No centro das tensões entre americanos e europeus está o imposto adotado por Paris sobre as atividades do setor digital, fortemente criticado por Washington, que ameaça sobretaxar o equivalente a US$ 2,4 bilhões em produtos franceses. Outros países da UE seguiram o exemplo: Áustria e Itália introduziram uma tributação nacional, e Espanha e Reino Unido também estão considerando o mesmo.


O ministro das Finanças britânico, Sajid Javid, disse em Davos que Londres pretende “implantar em abril” seu imposto digital, que foi “concebido como um imposto temporário que cairá quando houver uma solução internacional”.
Já o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, afirmou que “de qualquer forma, as empresas digitais pagarão um imposto em 2020 na França. Ou teremos uma solução internacional”.


A posição de Washington, porém, é clara: “Se quiserem impor arbitrariamente impostos sobre nossas empresas digitais, consideraremos impor arbitrariamente impostos sobre as montadoras”, ameaç

 

Gigantes da internet são ponto de discórdia
GAFA é sigla para Google, Apple, Facebook e Amazon e o antagonismo entre os EUA e a União Europeia começou quando a França impôs, em 1 de janeiro de 2019, um imposto de 3% sobre o faturamento das grandes empresas do setor digital, à espera de um sistema de fiscalização internacional — a cargo da OCDE. Washington retomou as negociações na organização, mas, em dezembro, veio o impasse, quando defendeu condições que a França rejeitou. Trump contra-atacou: ameaçou sobretaxar “em até 100%” o equivalente a US$ 2,4 bilhões de produtos franceses.