O Brasil terá uma participação reduzida e pouco destaque no 50º encontro anual do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), na gelada Davos, na Suíça, que começa oficialmente nesta segunda-feira. O encontro reúne aproximadamente três mil pessoas entre elas, executivos das maiores empresas globais e os principais líderes do planeta, mas contará com pouquíssimas autoridades do primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro.
O presidente desistiu de participar do evento no famoso resort dos Alpes suíços, neste ano. Ao discursar por apenas seis minutos e meio, em 2018, ele não entusiasmou a plateia exigente de Davos. Um executivo que participou da última edição do WEF conta que Bolsonaro ficou visivelmente incomodado com o fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter se tornado o centro das atenções no evento. E, por conta disso, segundo o executivo, nem mesmo os ministros que costumam frequentar o Fórum quiseram ir desta vez, para não ficarem à sombra do chefe da equipe econômica, que lidera a delegação brasileira neste ano.
Guedes tem como objetivo levar uma mensagem otimista sobre a economia brasileira, apesar de o crescimento ainda ser fraco neste ano, pelas novas estimativas que devem ser apresentadas hoje pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O ministro tentará convencer os investidores estrangeiros de que o Brasil mudou e que eles podem vir para cá, pois há um governo mais liberal na economia. A ideia dele será comparar o discurso do ano passado e mostrar o que conseguiu entregar, como a reforma da Previdência. O ministro vai aproveitar o encontro para reforçar que o processo de candidatura do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vai ajudar na transformação da economia brasileira, com práticas mais liberais.
Com a delegação brasileira esvaziada, integrantes do segundo escalão estão animados para ocupar as lacunas deixadas pelas autoridades, de acordo com fontes de empresas que costumam ir a Davos. Guedes viaja acompanhado apenas dos secretários especiais Carlos da Costa (Produtividade, Emprego e Competitividade) e Marcos Troyjo (Comércio Exterior e Assuntos Internacionais), que participam com o ministro do jantar de abertura nesta segunda-feira. Outro ministro confirmado no Fórum é o da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
O aquecimento global é o tópico-chave do Fórum durante os debates entre os dias 21 e 24 deste mês, tanto que uma das metas que serão propostas aos líderes presentes é o compromisso de zerar as emissões de carbono em 2050. Um dos recentes desafetos de Bolsonaro, a estudante sueca Greta Thunberg, está entre os principais palestrantes do evento, com uma agenda bastante movimentada. Além de Greta, destacam-se a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Cristine Lagarde, a chanceller da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Boas notícias
O embaixador Marcos Azambuja, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), considera que Guedes cumprirá melhor o papel de representar o Brasil como chefe da delegação em Davos. “O ministro vai levando boas notícias sobre a economia brasileira, com recuperação em algumas áreas, como agricultura. Temos um boletim encorajador, mas nada brilhante para mostrar. É o começo de uma recuperação”, explica. Na avaliação dele, o ministro estará mais à vontade do que Bolsonaro em Davos. “É um ambiente mais formal, com empresários, líderes e intelectuais com pensamento econômico liberal, e é preciso saber dominar os assuntos que são debatidos em encontros desse porte”, explica.
“Levando em conta a agenda do encontro, com ênfase central nas questões do aquecimento global e da responsabilidade social diante da desigualdade crescente no Brasil, Bolsonaro faz bem em abster-se de ir”, avalia o ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, Rubens Ricupero. “O presidente teria mais a perder do que a ganhar se estivesse presente ao Fórum. Suas participações em encontros globais têm sido desastrosas. Basta lembrar o discurso pífio e apagado que fez em Davos, no ano passado”, complementa.
Alerta para a desigualdade
A Oxfam International, confederação britânica que atua globalmente no combate à pobreza, divulga hoje, em paralelo ao encontro anual do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça, estudo que chama a atenção para o aumento da concentração de riqueza no mundo.
O relatório da Oxfam Tempo de Cuidar, que trata do trabalho mal remunerado e revela que 2.153 bilionários são donos de uma riqueza superior à detida por 4,6 bilhões de pessoas. “O volume de riqueza de mais da metade (60%) dos habitantes do planeta está nas mãos de poucas pessoas, e esse número dobrou na última década. Isso mostra que o atual sistema está falido e é preciso melhorar a distribuição de riqueza”, destaca Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
A especialista reforça que o aumento da desigualdade é uma realidade global e, para mudar esse cenário, é preciso que os governos adotem medidas efetivas para combater a conentração de renda, como mudanças no sistema tributário para que se torne mais igualitário. “Se a população 1% mais rica do mundo pagasse uma taxa extra de 0,5% sobre a riqueza nos próximos 10 anos, seria possível criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e de cuidado para idosos”, destaca. (RH)