Desde o início do ano até 10 de janeiro, os estrangeiros retiraram R$ 4,6 bilhões da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Nesse período, foram realizados sete pregões. Segundo a Bolsa, não se via uma fuga tão grande de recursos do mercado acionário em período semelhante desde 2008, quando o mundo foi sacudido pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana. O Ibovespa, principal indicador da B3, caiu 1,03% nesta quarta-feira (15/1), para 116.414 pontos, Entretanto, acumula alta de 0,66% no ano.
Na economia como um todo, segundo dados do Banco Central, o fluxo cambial — saldo entre entrada e saída de recursos do país — registrou entrada líquida de US$ 1,9 bilhão na última semana. Entre 6 e 10 de janeiro, a conta financeira ficou positiva em US$ 2,5 bilhões, enquanto a comercial ficou negativa em US$ 424 milhões. Com o resultado, o agregado de janeiro até o dia 10 ficou positivo em US$ 1,1 bilhão. O número é resultado de uma entrada de US$ 1,4 bilhão na conta de capital e de uma saída de US$ 300 milhões na conta comercial.
Vale lembrar, porém, que, em 2019, a saída líquida de dólares bateu recorde: US$ 44,8 bilhões. Até então, o maior deficit em um ano registrado pelo BC era de US$ 16,2 bilhões, computado em 1999.
Os estrangeiros estão decepcionados, principalmente, com a lenta recuperação da economia brasileira. Os investidores ressaltam que a fragilidade do crescimento pode ser confirmada pelos resultados fracos da indústria, dos serviços e do varejo, referentes a novembro do ano passado.
“Existe uma cautela do investidor de fora. Na semana passada, tivemos a divulgação de alguns dados que também não foram exatamente como o mercado esperava, como a queda da indústria e a inflação, que chegou a passar o centro da meta que era de 4,25%”, avaliou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
“Não vejo razões para o dólar ficar abaixo de R$ 4 neste ano, apesar da liquidez no mercado externo. A economia está fraca e, quando ela não cresce, o investidor sai”, explicou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Juros
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, avaliou que um dos motivos da saída de dólares é a queda da taxa básica de juros (Selic), que está no piso histórico de 4,5% ao ano. “O pessoal, teoricamente, vai buscar rentabilidade melhor em outro país”, disse.De acordo com o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, o real liderou a lista das moedas emergentes mais desvalorizadas nesta quarta-feira (15/1).“O BC está no meio de uma contradição. Ele não poderá cortar juros na próxima reunião do Copom, em fevereiro, porque o dólar está subindo e também não poderá subir a taxa básica porque a economia não está reagindo”, explicou. Pelas projeções dele, o dólar deverá encerrar o ano em R$ 4,30.
* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo