O governo dos Estados Unidos decidiu pedir que o Brasil seja priorizado na fila de países que tentam entrar como membros na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A posição será formalizada hoje, em reunião do Conselho da OCDE com representantes dos países-membros, em Paris, segundo fontes envolvidas nas tratativas.
Até hoje, o governo de Donald Trump vinha apoiando o pleito brasileiro de entrar na organização, mas sem indicar formalmente que posição o Brasil ocuparia na “fila” de candidatos, o que deixava o país no limbo. A mudança acontece depois de um ano em que o governo Bolsonaro mostrou alinhamento com os EUA, apesar de viver percalços na relação com a Casa Branca, e depois de o Itamaraty ter apoiado a ação americana no Iraque que gerou a mais recente crise entre Washington e Teerã.
Nota divulgada pela embaixada norte-americana em Brasília e por um porta-voz do Departamento de Estado, em Washington, afirma que “os EUA querem que o Brasil seja o próximo país a começar o processo de adesão para a OCDE”. “Nossa decisão de priorizar a candidatura do Brasil agora como próximo país a começar o processo é uma evolução natural do compromisso assumido pelo secretário de Estado e pelo presidente Trump em 2019”, diz a nota.
A promessa de que os EUA apoiariam a entrada do Brasil na OCDE foi feita em março, durante a visita do presidente Jair Bolsonaro a Donald Trump, na Casa Branca. Em agosto, no entanto, a agência Bloomberg revelou que o secretário de Estado, Mike Pompeo, enviara carta à organização na qual manifestava o apoio dos EUA à entrada da Argentina e da Romênia, sem menção ao Brasil. A posição frustrou o governo brasileiro na época.
Agora, os norte-americanos afirmam que “apesar de desejarem que o Brasil seja o próximo país a começar o processo de acesso, os EUA continuam a apoiar as aspirações de entrada da Argentina e Peru”, segundo porta-voz do Departamento de Estado.
Cronograma
Os EUA têm defendido um plano lento de expansão do organismo, contrário ao cronograma defendido pelos europeus, que abarcaria previsões e plano de adesão dos seis candidatos atuais. Depois que a carta de Pompeo veio à tona, o secretário de Estado e Trump reiteraram o apoio ao Brasil, mas novamente sem se comprometer com prazos ou o estabelecimento de um cronograma. Em outubro, o secretário-geral OCDE, Angel Gurría disse que o obstáculo à adesão do Brasil era a posição dos Estados Unidos.
Desde então, o Itamaraty vem cobrando dos norte-americanos que somem às declarações de apoio à entrada do país na OCDE a um cronograma claro de adesão que contemple o Brasil. No final do ano passado, diplomatas brasileiros receberam de Washington o aceno de que o país teria boas notícias sobre a questão. Já se especulava, no governo brasileiro, que o processo de adesão da Argentina perderia força. A avaliação é de que o governo eleito ano passado, de Alberto Fernández, já não prioriza a entrada na OCDE como fazia o governo Macri, o que quase anula o desgaste dos EUA com o país ao passar o Brasil na frente.
A discussão sobre a adesão à OCDE gira em torno da divergência entre norte-americanos e europeus sobre o tamanho da instituição. O governo Trump é contrário ao alargamento da entidade, enquanto os europeus pedem um cronograma de entrada que contemple um país da Europa para cada outro de fora.
Na prática, o novo sinal dado por Washington é uma manifestação importante de apoio dos EUA ao Brasil, mas dá pouca esperança de que haja avanço significativo no processo de adesão se não houver consenso, entre os EUA e os outros 35 membros da organização sobre o cronograma de entrada de todos os candidatos. O processo de entrada pode levar cerca de três anos, segundo especialistas.